Um cozido sulista, elitista e liberal
Sulista na origem, elitista na excelência dos produtos, liberal na dose.
Assim que olhei para o tacho vidrado, os enchidos repousados, os aromas fumegantes, assaltaram-me as palavras cantadas do Vitorino, "Na outra margem, sou feliz / Invoco a Terra, campo em flor / Vou-me embora / Vou pró Sul".
Insistentes, a melodia e as palavras do refrão acompanharam-me, recorrentes, durante o repasto. É justo que fiquem como banda sonora desta refeição.
Fica a melodia, que é linda, que não a nostalgia, a incerta tristeza da cidade - nestes momentos de deslumbre, pelo que a memória genética identifica como intrinsecamente nosso, é impossível o desgosto, deixado para outras horas do dia.
Ah, se a Norte são os rigores do tempo e dos espaços que marcam o fumeiro que habita os cozidos, aqui - apesar da parecença das artes, apesar da comum origem das matérias-primas - foram a doçura das planícies e o azul do céu que tranquiliza, apazigua, provoca aquele beatífico entendimento da vida, que se transmutaram deste cozido diniziano, dionisiano!
Um tacho feito cornucópia de enchidos, escolhidos com saber pelo sabor, representantes de vários modos regionais, do Alto Alentejo à serra algarvia,
Chouriço de Sangue, do Montijo
Mouras de Nisa
Bucho de Alpalhão
Bexiga, Paínho de Ossos, Cacholeira Branca de Portalegre
Moura de Borba
Chouriço de carne e Morcela de Estremoz
Chouriço Preto, Catalão, Farinheira, Toucinho Fresco, Entrecosto, Entremeada, de Garvão
Mangotes da Aldeia Nova (lombo, orelha, rins, ensacados em pele de presunto, cozidos em água e vinho branco, depois fumados)
Focinhos de Porco de São Bartolomeu de Messines
Linguiça de Portimão
Morcela de Farinha, Molhos de Arroz, Chouriço, Morcela de Arroz, de Monchique
com a substância das carnes de vaca Alentejana e também das do borrego alentejano,
e, nos vegetais, imagino o desvelo e o prazer, colocados e obtidos na procura e escolha dos produtos de eleição algarvios, a par de um dos melhores carolinos do país,
Nabo dourado
Batata doce de Aljezur e Cenoura de Aljezur
Couve lombarda de Odiaxere
Grão e Abóbora de Alcoutim
Feijão Verde de Portimão
Arroz de Alcácer
Destaque merecido - pela descoberta, pela aposta ganha que a combinação é de truz - para a inclusão da
Pera (de Tavira)
que primeiro fez franzir o nariz a quem lá estava para depois provocar um sorriso de assentimento. Com textura próxima à do nabo, com o adocicado que bem contradiz a "generosidade" de gordura dos enchidos, é uma adição bem vinda, sem sequer cair como hóspede original - o Chefe Diniz descobriu-lhe referências nos cozidos de Olhão, Tavira e Castro Marim.
Conclusão: mais um magnífico cozido da série Diniz 2014 que agora termina, para voltar para o ano, para alegria de uma cada vez maior número de admiradores. A evocar os cozidos de grão algarvios, com a adição dos sabores alentejanos, comida de alma, manjar de nós.
Insistentes, a melodia e as palavras do refrão acompanharam-me, recorrentes, durante o repasto. É justo que fiquem como banda sonora desta refeição.
Fica a melodia, que é linda, que não a nostalgia, a incerta tristeza da cidade - nestes momentos de deslumbre, pelo que a memória genética identifica como intrinsecamente nosso, é impossível o desgosto, deixado para outras horas do dia.
Ah, se a Norte são os rigores do tempo e dos espaços que marcam o fumeiro que habita os cozidos, aqui - apesar da parecença das artes, apesar da comum origem das matérias-primas - foram a doçura das planícies e o azul do céu que tranquiliza, apazigua, provoca aquele beatífico entendimento da vida, que se transmutaram deste cozido diniziano, dionisiano!
Um tacho feito cornucópia de enchidos, escolhidos com saber pelo sabor, representantes de vários modos regionais, do Alto Alentejo à serra algarvia,
Chouriço de Sangue, do Montijo
Mouras de Nisa
Bucho de Alpalhão
Bexiga, Paínho de Ossos, Cacholeira Branca de Portalegre
Moura de Borba
Chouriço de carne e Morcela de Estremoz
Chouriço Preto, Catalão, Farinheira, Toucinho Fresco, Entrecosto, Entremeada, de Garvão
Mangotes da Aldeia Nova (lombo, orelha, rins, ensacados em pele de presunto, cozidos em água e vinho branco, depois fumados)
Focinhos de Porco de São Bartolomeu de Messines
Linguiça de Portimão
Morcela de Farinha, Molhos de Arroz, Chouriço, Morcela de Arroz, de Monchique
com a substância das carnes de vaca Alentejana e também das do borrego alentejano,
e, nos vegetais, imagino o desvelo e o prazer, colocados e obtidos na procura e escolha dos produtos de eleição algarvios, a par de um dos melhores carolinos do país,
Nabo dourado
Batata doce de Aljezur e Cenoura de Aljezur
Couve lombarda de Odiaxere
Grão e Abóbora de Alcoutim
Feijão Verde de Portimão
Arroz de Alcácer
Destaque merecido - pela descoberta, pela aposta ganha que a combinação é de truz - para a inclusão da
Pera (de Tavira)
que primeiro fez franzir o nariz a quem lá estava para depois provocar um sorriso de assentimento. Com textura próxima à do nabo, com o adocicado que bem contradiz a "generosidade" de gordura dos enchidos, é uma adição bem vinda, sem sequer cair como hóspede original - o Chefe Diniz descobriu-lhe referências nos cozidos de Olhão, Tavira e Castro Marim.
Conclusão: mais um magnífico cozido da série Diniz 2014 que agora termina, para voltar para o ano, para alegria de uma cada vez maior número de admiradores. A evocar os cozidos de grão algarvios, com a adição dos sabores alentejanos, comida de alma, manjar de nós.
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