O Carapau de Corrida 2016
Depois da cavala e da sardinha, o carapau.
Bendito carapau, que alegra os lisboetas desde mesmo antes estes saberem que eram lisboetas, peixe humilde - de gato... - peixe jaquim, de fritura aos centos, de estrelato só comungado pela sardinha no Malcozinhado que a memória não tem, peixe de muitos gostos excepto nos cada vez menos tradicionais apetites da cidade... gourmet.
O Peixe em Lisboa deste ano reserva o altar-mor ao carapau. Da honra espera-se renascimento na procura (ainda que se dispense a inflação especulativa...) e propostas criativas sem adulterações.
Passando às restantes atracções.
No sector internacional, este ano concentrado entre os dias 12 e 15, começo por destacar Nuno Mendes - produto nacional em primeiro lugar - e Elena Arzak. Do chefe português que há muito faz furor em Londres releiam o que sobre ele escrevi na sua visita à Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa no final de 2014 - ainda que mais informativo será assistir à sua apresentação no dia 14 de Abril. A chefe espanhola, filha de uma das referências máximas da nueva cocina (ainda que este movimento pareça começar a aproximar-se mais de uma expressão do passado do que uma revolução com futuro), - Juan Maria Arzak -, à frente do restaurante homónimo, dá a cara por uma cozinha fundada na tradição gastronómica basca, de respeito pela sazonalidade das matérias-primas, sem abdicar de uma forte componente de investigação e inovação, reconhecida pelo mundo gastronómico, podendo tal ser comprovado no dia 13.
Estarão igualmente presentes, no dia 12, o italiano Pino Cuttaia e no dia 15 o espanhol Diego Gallegos. Cuttaia é o chef do La Madia, na Sicilia. Como é norma no certame, é reconhecido especialmente pela gastronomia de mar, definindo-se a sua cozinha como o renascimento de pratos sicilianos tradicionais com o recurso à criatividade e simplicidade. Gallegos, no dia 15, demonstrará porque é crismado em Espanha “el chef del caviar”. Trabalhando maioritariamente com peixes de rio no seu restaurante Sollo, em Málaga, é, segundo Duarte Galvão, o contraponto fluvial ao trabalho com os produtos de mar de Angel Léon, presente na edição de 2013 do Peixe.
Dos chefes portugueses, no dia 16, os retorno de Alexandre Silva que, espero, traga consigo as criações que tanto entusiasmo tem suscitado aos visitantes do seu novo espaço em Lisboa - Loco -, e de Tomoaki Kanazawa, agora na, tão arriscada como bem-sucedida, proposta kaiseki no restaurante que tem o seu apelido.
A 10 e 11, dois nomes que me criam muita expectativa quanto ao modo como transcreverão para o palco as suas ideias: a 10, Tiago Feio, o solitário one-man-show do Leopold; a 11, Rui Silvestre, do mais recente estrelado restaurante português (Bon Bon). Igualmente a 10, Henrique Sá Pessoa.
Dos restaurantes presentes - afinal a grande mola impulsionadora da dinâmica do festival e chamariz maior de público -, para além dos habituais Arola e Midori by Penha Longa Resort, José Avillez, Kiko Martins, Nobre/Nobre Estoril, Ribamar, Taberna da Rua das Flores, Tasca da Esquina e Peixaria da Esquina – Vítor Sobral, a estreia dos espaços de Bertílio Gomes com Chapitô à Mesa, Ibo e o Ritz Four Seasons Hotel Lisboa – Pascal Meynard. Reforço muito forte do que já era um plantel recheado de artistas, esta selecção promete ainda mais alegrias do que o seleccionador nacional de futebol. Esperemos que não hajam bolas na trave nem penalties falhados, para além dos proibidos frangos...
Extra peixe e marisco, verifica-se um forte reforço da componente pastelaria e doçaria. Para além do já tradicional concurso de pasteis de nata, irá decorrer a prova “ADN de Pasteleiro” (dias 8 e 9), que reunirá chefes pasteleiros a trabalhar em Portugal, os quais competirão perante um júri presidido por Maria Lourdes Modesto.
Novidade será também o prolongamento do horário até às 2 da manhã, às Sextas e Sábados, com direito a DJ e preço (depois da meia-noite) mais barato.
E pronto - há mais a dizer, mas o texto já vai comprido, pelo que...
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