Pousada de Ourém - Restaurante
A pequena vila merece um fim-de-semana sem pressas. Situada no alto, sobranceira à cidade de Ourém, possui todas os ingredientes para dois dias de descanso, em imersão total: um castelo com pormenores e histórias suficientes para captar a atenção por um par de horas, um burgo de casas bem conservadas de traça medieval, um tempo que parece escoar-se mais lentamente e uma pousada simpática, com um restaurante honesto.
Um restaurante com algumas propostas que vale a pena experimentar.
Criadas em plena euforia nacionalista, às Pousadas de Portugal competia, na óptica dos seus criadores, ser para os seus hóspedes, o espelho da região que os acolhia. Foi, por isso, apanágio dos seus restaurantes, representar o que de mais pretensamente genuíno a gastronomia local apresentava, devidamente enquadrado por rigorosos critérios de competência e rigor.
Nestes quase setenta anos de história, apesar da natural erosão de costumes, das revoluções sociais e culturais, das crises económicas e de valores, manteve-se esta constante: uma refeição no restaurante de uma destas Pousadas é sinónimo de qualidade. Foi assim com esta certeza que entrámos na sala de refeições desta unidade de Ourém.
(fonte: site das Pousadas de Portugal) |
Sala despojada, com mobiliário de linhas sóbrias mas ergonométricas quanto baste (o apoio lombar das cadeiras é um sonho!). Serviço correcto, atento, disponível.
No menú, sobressaem dois primeiros prémios de um não identificado Concurso Regional de Gastronomia:
- Bacalhau lascado com chícharos, crocante de broa de milho e poejo;
- Pudim de Maçã, canela, mel de rosmaninho e eucalipto.
Há ainda 4 "Petiscos Regionais" (Moelinhas de Frango, Morcela de Arroz na grelha, Pasta de Atum (???) com queijo fresco e Salada de Polvo em vinagrete); 5 "Sopas e Entradas" (Sopa de Feijão Vermelho com couve e pernil de porco; Creme de Espargos com galinha do campo; Farinheira, tâmaras e cogumelos em cama de batata palha; Crocante de Queijo Cabra, com doce de abóbora e maçã; Salada Mista de presunto e rúcola, frutos secos, trufas e molho cocktail); 2 Pratos Vegetarianos (Salteado de Legumes e crepe frito sobre cama de trigo e feijão vermelho com aroma de tomilho; Crocante de Espinafres com arroz de frutos secos, abóbora e pesto); 4 Pratos de Peixe (Dourada no sal flamejada com aguardente velha e legumes cozidos; Salmão com amêndoa e alcaparras, vol-au-vent de pontinha gratinada e brócolos; Bacalhau lascado com chicharos, crocante de broa de milho e poejo; Lagarada de Polvo com azeite da primeira pressão, batata a murro e grelos salteados); 5 Pratos de Carne (Cabrito sem osso assado com migas de grelos; Bochechas de porco coradas em óleo de palma com batata-doce assada e molho de vinho tinto; Lombo e Novilho grelhado com migas de brócolos; Medalhões de Javali com puré de castanhas, molho de cogumelos e salada de tomate; Bife à Portuguesa). Nos doces, para além do já citado pudim de maçã, um
Trio de Chocolate com molho de menta e doçaria diversa.
Como entrada, escolhemos a Farinheira. Sábia combinação, com o enchido a portar-se à altura, o peso da gordura contrabalançado pelo doce da tâmara. Os cogumelos, no ponto, adicionam substância, ainda que talvez fosse mais natural o recurso a uma espécie nacional, em vez da corriqueira variante de Paris - adicionaria certamente um sabor extra (ah, a ciência combinatória!) para além da vertente publicitária de mais um produto nacional. O que me pareceu totalmente inaceitável (num restaurante de esquina com pratos económicos ainda vá... mas aqui?) foi o recurso à batata de pacote para a cama do enchido. A batata palha também se faz na cozinha - ainda para mais nesta cozinha - não são precisas produções industriais...
Batata de Pacote? Até a mão se me estremeceu |
O Bacalhau foi o prato de peixe escolhido. Os chícharos, tantas vezes referenciados, ainda não provados, comprovaram a fama de originalidade no sabor e na textura. A meio caminho entre o tremoço e o feijão, são bons de trincar, desafiam. O prato em si, começou por ser uma desilusão: sequíssimo, a acusar permanência em excesso no forno, situação parcialmente reparada com a adição de azeite aquecido. Por onde andava a equipa na cozinha? A broa, elemento evocador, seria um bom acompanhante não estivera desagradavelmente endurecida pelo calor. Em conclusão, este seria um prato trivial, longe de um "1º Prémio", não fora a presença dos chícharos.
Bacalhau lascado: só os chícharos o salvaram do esquecimento |
Na carne, elegeu-se o Cabrito. Belo sabor, belíssima composição das migas - feijão frade, broa, arroz e grelos! A carne, desfiada, de boa cozedura, tenríssima... sofrendo, no entanto, ainda que parcialmente, do mesmo problema de secura do bacalhau.
Cabrito lascado com migas |
Os dois pratos foram acompanhados por um escorreito Casa de Santar (recomendação da casa para o cabrito) que serviu de bom acompanhante.
As sobremesas, retiradas do buffet, oscilaram entre o trivial - o bolo de bolacha - e o muito bom - a encharcada de ovos e o quindim de coco.
Encharcada e quindim - a registar |
Concluindo: atendendo ao preço (45€ por pessoa...) e à localização, merecia-se muito melhor. Ainda que alguns dos pormenores tivessem ficado na memória...
Comentários