Uma Tasca desiludida
A mesa marcada há uns dias, velhos e entusiastas amigos por companhia, expectativas elevadas. Finalmente cumpria vontade que mantinha desde o último Peixe em Lisboa: conhecer a Tasca da Esquina do chefe Vítor Sobral.
Aproveitando o espaço dum anterior anónimo restaurante de bairro - com marquisado em clandestinês para o passeio - o restaurante aparece ao visitante neófito como sobrelotado - há falta de vazios, de respiração, muitas mesas, bancos, empregados, balcão... A principal zona de refeições é a marquise o que, com o Sol de Verão a querer entrar e um ar condicionado gerido por empregados distraídos pode proporcionar um experiência desconfortável.
A carta não prima pela originalidade dos pratos - o que seria uma desilusão neste chef, não fora a declarada intenção de dar primazia aos petiscos atirar para o secundário este tipo de opção. Estando, como estávamos em missão descobridora, acolhemos a solução da carta "ponha-se nas mãos do chefe" e optámos pelo menu de degustação, tendo sido informados que as escolhas seriam diferentes da oferta da carta.
Espaçadamente, foram elas chegando, não sem antes sermos forçados a uma inaceitável rábula para um restaurante que de tasca só deveria ter o nome, de confessar incumpríveis não um mas dois pedidos de bebida (cola zero / água tónica com a agravante da distracção do empregado prolongar o ridículo com a resposta schwepps não, só frisumo (água tónica frisumo?)).
Em par,
uma sopa de tomate e pêssego, correcta
e um rolo de bacalhau fumado com rúcula em molho que o empregado se esqueceu de explicar o que era. (Não se entendendo a razão da sua apresentação em simultâneo - distracção do serviço que se esqueceu de servir o primeiro a horas?) O bacalhau estava saboroso ainda que rijo ao corte, preferindo-o eu mais "esfiaçável".
De seguida,
ameijoas (como a Maria da radionovela: simplesmente...). Dois pratos para cinco pescarem os bivalves à vez (incúria, desleixo) não se entende - estavam-nos a servir o rancho?
e depois estas lulas grelhadas em cama de cogumelos de Paris salteados. Os cogumelos apetitosos, as lulas fora do ponto ideal.
Finalmente e após algum esperar, o que deveria ser o coroamento da refeição e do menu especial de degustação (não esquecer que nos tínhamos posto "nas mãos do chefe") foi... o prato do dia:
arroz de cabidela! No ponto para uns, ligeiramente avinagrado para outros, lá cumpriu.
Correcto mas sem chama, sem gulodice, sem se obrigar a mais.
Das sobremesas pedidas,
uma sopa de frutos silvestres que pareceu boa a quem provou
e um "Abade de Priscos" mentiroso (se "aquilo" para além dos aromatizantes, só tinha ovos, açúcar e sebo eu chamo-me Brillat-Savarin) se bem que competente e com um acompanhamento de sabor interessante (que proporcionou mais uma rábula com o empregado, comigo a perguntar os ingredientes e a sugerir poejo e a ser informado que era abacaxi e coco...).
Desta experiência (que eu suspeito ser a última...) o que ficou? Uma profunda desilusão.
Desilusão com as toalhas de papel e com a colocação dos talheres em copos de inox (que mais parecem escorredores) - há uma bipolaridade entre o conceito de tasca e os preços praticados que é pouco consentânea com a coerência exigível a restaurantes deste nível.
Desilusão com a vulgaridade dos petiscos escolhidos, com a falta de consideração pelo cliente traduzida no recurso ao prato do dia.
Desilusão com o serviço que, para além de pouco experiente, foi pouco caloroso, pouco disponível para satisfazer, em algumas situações a roçar o sobranceiro.
Desilusão com o espaço.
Finalmente, desilusão com quem eu considerava um dos chefes portugueses mais fiáveis - Vitor Sobral que pelo restaurante andou sem uma mínima palavra de atenção para com os comensais que a sua condição de anfitrião exigiria.
Esta Tasca parece-me em fim de ciclo. Esgotada. Cansada. Perfunctória. Sem alma.
Ou eu me engano muito ou estão todos à espera do fecho.
Apreciação global: 2.5/5
Comentários
Tudo bom, saboroso, e, nalguns casos, bastante bom mesmo. Gostei da decoração, do ambiente. E o preço foi correcto. Creio que as perspectivas são de crescimento e até, dizem, do chef abrir nas redondezas uma cervejaria. Não sei. O que sei é que entrei na expectativa e saí com vontade de voltar.
Enfim, posso ter tido sorte com as escolhas.