Culinária de Lisboa #6 - Sopa de Ameijoas
"Querida Mô,
SOPA DE AMEIJOAS
2 kg de ameijoas; 1 cebola; alho; 300 gr tomate; 1 dl azeite; 1,5 l água; sal e pimenta; cubos de pão frito ou torrado
. Corta-se a cebolas em rodelas e pica-se o alho. Refogam-se em azeite.
. Retira-se pele e sementes ao tomate, juntando-os ao refogado; deixar fritar um pouco e acrescentar a água.
. Abrem-se as ameijoas no calor, retiram-se das conchas e, juntamente com o líquido que largaram, coado, adicionam-se ao caldo.
. Tempera-se com sal e pimenta.
. Serve-se com cubos de pão frito. Ou torrado, em caso de ligar às preocupações contemporâneas com a saúde.
Lisboa tem destas coisas, deambula uma pessoa por ruas de arquitectura anónima, de amargura colectiva, e de repente, uma nesga do rio que aguarda, displicente, numa esquina, revela-se na sua tentação. É um chamamento, é só um chamamento, mas tão poderosamente efectivo que se transforma numa ordem.
Eu que reflectia nestes azares da hereditariedade, neste destino não alterável do código genético que me foi legado, triste, triste, porque me estava mentalmente a despedir de todos os prazeres da mesa que fui ao longo dos anos aprendendo a coleccionar, dei comigo a pensar no rio, a dirigir os meus passos na direcção do rio, até que, atravessando a via férrea, me vi face a face com ele num entardecer magnífico, num desses entardeceres magníficos de Lisboa, um entardecer que me afagou e fez esquecer a melancolia e a soturnidade de alma cesarianas.
Sou um lisboeta sem emenda, o rio, à vista ou apenas pressentido, é o meu oxigénio, sem a sua sugestão sou como um amante do Romantismo, a morrer da ausência.
Quase me sinto como Campos, olhando o paquete que entra a barra na manhã de Verão, só que estes cabos evocam inversamente, não o desejo das viagens, a promessa da descoberta que elas aportam, antes a prisão das restrições alimentares e o ocaso no céu é, ao invés de uma saudação, uma despedida, o crepúsculo da deusa gastronomia.
Eis-me refém do passado, porque irrepetível de ora em diante. Restam-me memórias, coleccionismos de momentos. Não um AHÒÒÒÒÒÒÒÒÒY / Schooner AHÒÒÒÒÒÒÒÒÒY, antes, por exemplo, umas ameijoas comidas há anos, num tasco aqui perto, metade delas transformadas numa sopa que me deleitou os sentidos.
SOPA DE AMEIJOAS
2 kg de ameijoas; 1 cebola; alho; 300 gr tomate; 1 dl azeite; 1,5 l água; sal e pimenta; cubos de pão frito ou torrado
. Corta-se a cebolas em rodelas e pica-se o alho. Refogam-se em azeite.
. Retira-se pele e sementes ao tomate, juntando-os ao refogado; deixar fritar um pouco e acrescentar a água.
. Abrem-se as ameijoas no calor, retiram-se das conchas e, juntamente com o líquido que largaram, coado, adicionam-se ao caldo.
. Tempera-se com sal e pimenta.
. Serve-se com cubos de pão frito. Ou torrado, em caso de ligar às preocupações contemporâneas com a saúde.
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