Culinária de Lisboa #7 - Sopa de Espinafres
Querida Mô,
Uma semana de chuva brutal (brutal porque nos mói a paciência a violência dela a cair, violência porque, depois deste Outubro de Sol nos aparece sem aviso, sem aguaceiros nem mansidão de molha-tolos), a estragar-me ainda mais o humor tão abalado com a novela política do momento.
Perante um dia que não seca mais e um cinzentismo que vem dos homens e do céu que fazer se não pegar nos clássicos e refugiar-me na Arcádia escolhida?
Erro, erro meu porque resolvi - amuado que estou com o regime, com a Res Publica e a República - buscar no regime anterior algum apaziguamento (confesso: perante tanto disparate proferido pelo chefe do Governo, procurei um confronto com as palavras de um Chefe de Estado não eleito...). Infelizmente, o volume que me chegou à mão eram as Cartas do Senhor D. Pedro V, esse infeliz, romântico e breve rei que, como triste figura assombrou ao de leve a sociedade lisboeta de meados de Oitocentos.
Ora ler o moço rei é, neste tempo de crises múltiplas, descobrir-lhe um agudo sentido de previsão. A sua análise, as suas palavras, aquela certeira intuição do país e da classe dirigente não são dirigidas aos seus contemporâneos - é aos meus! Parámos no tempo? Demos voltas à História para estacionarmos no mesmo sítio?
Faltam-me forças, minha amiga. Nesta Lisboa de ruas que se afogam com uma bátega mais forte, de prédios corroídos, de abandono, desilusão, nesta Lisboa de um desencanto total das pessoas nos homens e mulheres que governam o país, faltam-me forças.
É. É melhor refugiar-me na contemplação de uma malga fumegante de sopa. De espinafres que talvez me tragam o ferro que falta para enfrentar tamanha desilusão de gentinha.
1 kg batatas; 2 l água; 2 cebolas; 2 cenouras; 1 dl azeite; 1 molho espinafres
Cozem-se as batatas sem casca, as cebolas e as cenouras, cortadas em pedaços. Passam-se com a varinha mágica. Adicionam-se os epinafres bem lavados e o azeite. Coze 5 minutos.
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