Culinária de Lisboa #27 - Pasteis de Bacalhau
Querida Mô,
Hoje percorri a pé a Liberdade.
Sim, foi a avenida que desci, mais um na multidão que se juntou em nome de razões bem diversas mas, no fundo, em nome do seu direito à liberdade de expressão e manifestação. Imagine esta frase no seu sentido figurado e compreenderá o que senti ao fazê-lo. "Não sei por onde vou, sei que não vou por aí" - todos pareciam herdeiros de Régio, na rejeição de um país condenado à mediocridade. Talvez esta seja a única herança que resta dessa revolução que nos afastou há quase quatro décadas - mas que bela herança é!
Nesse caminhar político mas apartidário, a meio da festa em que se transformou este desabafar (não queremos ir por aí), passar pela Riba d'Ouro lembrou-me o tio Augusto e as conversas que tinha comigo quando apanhava a mãe distraída e me podia envolver no seu tema favorito: a "política" (assim, com aspas, que era como vinha quando as pessoas, nesse tempo, falavam dela - a "política", coisa muito séria e quase maçónica). Um dia, no auge daquele Verão que foi o seu último em Lisboa (penso que poucos dias depois da nossa despedida na Rocha do Conde de Óbidos), trouxe-me o tio a esta mesma Riba d'Ouro depois de me ter levado a uma sessão de esclarecimento sobre os SAAL no Sindicato dos Arquitectos.
Discutimos - isto é, ele dissertou longamente sobre o maravilhoso mundo igualitário que o programa prometia, interrompido esporadicamente pelos tímidos argumentos que os meus quinze anos permitiam. A toalha de papel ficou cheia de desenhos - defeito comum a todos os arquitectos -, esquemas, pormenores, todo um bairro democraticamente criado, feito por e para o povo.
Nesse dia senti-me - como Adão no tecto da capela Sistina - tocado pelo dedo de Deus. Nesse dia, Deus - politicamente incorrectíssimo, a dar-se a conhecer no calor das imperiais bebidas em pleno Verão revolucionário - explicou-me que o meu caminho seria o da arquitectura. Isso, ou que os pasteis de bacalhau que, providenciais, amenizaram os galopantes efeitos da cerveja na minha inexperiente juventude, eram o verdadeiro caminho para o Céu. Já não me lembro bem, mas continuam ambos a ser uma verdadeira paixão.
Hoje percorri a pé a Liberdade.
Sim, foi a avenida que desci, mais um na multidão que se juntou em nome de razões bem diversas mas, no fundo, em nome do seu direito à liberdade de expressão e manifestação. Imagine esta frase no seu sentido figurado e compreenderá o que senti ao fazê-lo. "Não sei por onde vou, sei que não vou por aí" - todos pareciam herdeiros de Régio, na rejeição de um país condenado à mediocridade. Talvez esta seja a única herança que resta dessa revolução que nos afastou há quase quatro décadas - mas que bela herança é!
Nesse caminhar político mas apartidário, a meio da festa em que se transformou este desabafar (não queremos ir por aí), passar pela Riba d'Ouro lembrou-me o tio Augusto e as conversas que tinha comigo quando apanhava a mãe distraída e me podia envolver no seu tema favorito: a "política" (assim, com aspas, que era como vinha quando as pessoas, nesse tempo, falavam dela - a "política", coisa muito séria e quase maçónica). Um dia, no auge daquele Verão que foi o seu último em Lisboa (penso que poucos dias depois da nossa despedida na Rocha do Conde de Óbidos), trouxe-me o tio a esta mesma Riba d'Ouro depois de me ter levado a uma sessão de esclarecimento sobre os SAAL no Sindicato dos Arquitectos.
Discutimos - isto é, ele dissertou longamente sobre o maravilhoso mundo igualitário que o programa prometia, interrompido esporadicamente pelos tímidos argumentos que os meus quinze anos permitiam. A toalha de papel ficou cheia de desenhos - defeito comum a todos os arquitectos -, esquemas, pormenores, todo um bairro democraticamente criado, feito por e para o povo.
Nesse dia senti-me - como Adão no tecto da capela Sistina - tocado pelo dedo de Deus. Nesse dia, Deus - politicamente incorrectíssimo, a dar-se a conhecer no calor das imperiais bebidas em pleno Verão revolucionário - explicou-me que o meu caminho seria o da arquitectura. Isso, ou que os pasteis de bacalhau que, providenciais, amenizaram os galopantes efeitos da cerveja na minha inexperiente juventude, eram o verdadeiro caminho para o Céu. Já não me lembro bem, mas continuam ambos a ser uma verdadeira paixão.
PASTEIS DE BACALHAU
0.5 kg de bacalhau sem peles nem espinhas; 300 gr batatas; 4 ovos; 1 ramo de salsa picada miúda; sal e pimenta; 3 dl azeite
Cozem-se o bacalhau e as batatas com casca. Passam-se em quente pela máquina de moer carne. Misturam-se num alguidar com o leite, as gemas dos ovos e a pimenta, numa massa homogénea. Juntam-se as claras batidas em castelo e a salsa.
As formas: O segredo dos pasteis é a sua forma. Faz-se com 2 colheres de sopa, de preferência ovais, tentando dar 3 faces ao pastel, terminando as duas extremidades em bico.
A fritura: Fritam-se em azeite bem quente deixando escorrer em papel de cozinha.
Acompanhamentos: Salada de alface, pepino, tomate. Salada de agriões e bagos de romã. Arroz de tomate malandrinho!!!
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http://www.youtube.com/watch?v=MnnTjwMFNQk