A importância de se chamar Ernesto

Presumo que acontece a todos: o contacto com experiências culinárias mais bem conseguidas, com melhor técnica e exemplares de maior qualidade faz empalidecer o que se considerava como padrão. Pratos ou restaurantes pelos quais se tinha algum afecto passam a viver próximo da mediania acabando, se revisitados, por se constituir como desilusões. Sobe o grau de exigência, a bitola utilizada altera-se e o que antigamente nos deixava satisfeitos provoca um amargo de boca pelo tempo gasto e a oportunidade para novas descobertas desperdiçada.

Recentemente, duas experiências em restaurantes "de sushi", deixaram-me próximo dessa sensação, comprovando, num caso, o preconceito que trazia, no outro desiludindo a expectativa criada por um elogioso "word of mouth".

(A minha relação com o sushi é antiga e teve origens humildes, num take-away londrino ainda no tempo em que Lisboa era um deserto em termos de restaurantes de inspiração japonesa. Estranhei com a convicção de que se haveria de entranhar. E entranhou-se como se entranhou em Portugal esta oferta, principalmente depois da reconversão que uma miríade de casas chinesas entendeu temporariamente fazer depois de uma demolidora reportagem televisiva. Sou um engajado degustador. E sou um interessado descobridor de novas propostas, na esperança de descobrir aquela que irá ultrapassar a ainda que considero (apesar de algumas surpresas) a mais bela experiência de sushi da capital. Porque, quando a descobrir, terei rasado o nirvana.)

Passo displicente pelo relato da primeira experiência: fracos produtos, fraca preparação do arroz, pouca variedade, decoração moviflor. Garrafeira miserável excepto nos preços pedidos. Conta final acima dos 30 euros por cabeça. Um aperto pelo desperdício e a esquecer em passo de corrida.

Já a segunda... Sushi alentejano, conhecem?

Conceito inicialmente desenvolvido numa casinha de dimensões... japonesas, aumento de clientes, proposta de sociedade para vôos mais arrojados, desilusão/zanga/dissolução com o amargo de boca (segundo o autor em referência feita durante o jantar) de ver perdidos os direitos de autor sobre o nome original. Regresso às origens na rua de S. Sebastião da Pedreira onde a impossibilidade referida renomeou a proposta como "Mê sushi".



E o que se pode encontrar no 1ª Sinfonia?

Uma cozinha polvilhada de inspirações com notas mais portuguesas, como esta entrada de tortilla de farinha de entrada, acompanhada pelo shot de creme de feijão verde. Frango, doce, picante, ácido, boas perspectivas.


O sushi? Uma bem intencionada e esforçada realização. Infelizmente, não de levantar a mesa.

Como se o restaurador tivesse de resumir toda a sua obra num só prato: a diversidade de propostas, o aglomerar de ideias, transformam a degustação num frenesim de sabores, num ajuntamento de texturas e de gostos que actuam com dissonância entre si. Sendo diminuta a prova (repare-se no prato: 12 propostas diferentes!), quase impossível se torna a lembrança, a fixação de uma solução. Fica-se com uma vaga ideia a que se sobrepõe a dúvida; terá sido o... ou o...


Resta assim algum lamento pela pouca força - por via desta dispersão - com que nos agarra a proposta. Como seria com menos variedades?

Doces igualmente com aspirações originais, em proposta fixa.


Este menu de degustação para duas pessoas custou 29 €.

Serviço simpático ainda que algo lento, reflexo da diminuta cozinha. Esperemos que o caminho se faça ao contrário do trânsito da rua e vá em direcção ascendente. Há idealistas que merecem um sorriso da sorte.

1ª Sinfonia
Chef Eduardo Guerreiro
restaurante1sinfonia@gmail.com ; Tel: 938 315 913 ; https://www.facebook.com/primeira.sinfonia ;
Rua São Sebastião da Pedreira 109-111
1050-207 Lisboa

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