Da vista como justificação
Há mais anos do que quero contabilizar, na companhia de quem já há muito não atura as pepineiras deste país, patrocinado por um Centro Nacional de Cultura que ainda era muito mais do que um clube para reformados pré-gasparinos, percorri em forma de passeio os cais que, partindo de Cacilhas vão quase (iam quase) até à projecção da ponte 25 de Abril.
Era Junho e o final do dia. Nunca tinha visto Lisboa com aquela específica luz, aquela intensidade de rosas e dourados, nunca a tinha sentido tão próxima e simultaneamente tão afastadamente exposta, cidade branca tão ausente de branco.
Foi paixão. Daquelas que só a adolescência de espírito permite, assolapada, indelével, tão forte que ainda dói.
Há pelo menos vinte anos que, nesse cais que do Ginjal se chama, é possível procurar esse momento mágico de fim de tarde sentado a uma mesa e conjugá-lo com algumas portuguesas (ou brasileiras) iguarias no Ponto Final ou no Atira-te ao Rio, restaurantes vizinhos, de propostas diferentes, mas que fazem da vista e do espaço circundante a maior mais-valia do que têm para oferecer.
Perante o espectáculo disponível para quem os demanda, não sei se a maioria dos comensais se importa - ou sequer repara, ou sequer acha isso importante - com a qualidade da comida.
Confesso que também eu concedo alguma latitude nos pratos apresentados - afinal, uma paixão é uma paixão e a sua fruição permite uma certa indulgência no julgamento.
Apesar do queijo apresentado de entrada não ter a pretensão de ser candidato a primeiros prémios em concursos internacionais, é suficiente companhia para acompanhar o cair do dia com, por exemplo, um vinhão que vem de longe e faz esquecer o uso intensivo de castas francesas nos vinhos da região de Lisboa.
E há as pataniscas e o arroz de feijão.
E os jaquinzinhos (chiuuuuu!) que se perdoam pelo bem que sabem (e pela fritura próxima do exemplar).
Mas há limites. Quando os preços começam a ser mais baseados na vista do que na preparação culinária e esta começa a avisar que não se aguenta na experiência - como o arroz de tomate provado a semana passada que mais parecia saído da primeira tentativa de uso de fundos knorr de uma infantil mestre-cuca - pergunto-me se não será melhor começar a pensar em trazer cesta de piquenique e acampar no relvado adjacente, deixando aos turistas o incómodo da experimentação.
Foi paixão. Daquelas que só a adolescência de espírito permite, assolapada, indelével, tão forte que ainda dói.
Há pelo menos vinte anos que, nesse cais que do Ginjal se chama, é possível procurar esse momento mágico de fim de tarde sentado a uma mesa e conjugá-lo com algumas portuguesas (ou brasileiras) iguarias no Ponto Final ou no Atira-te ao Rio, restaurantes vizinhos, de propostas diferentes, mas que fazem da vista e do espaço circundante a maior mais-valia do que têm para oferecer.
Perante o espectáculo disponível para quem os demanda, não sei se a maioria dos comensais se importa - ou sequer repara, ou sequer acha isso importante - com a qualidade da comida.
Confesso que também eu concedo alguma latitude nos pratos apresentados - afinal, uma paixão é uma paixão e a sua fruição permite uma certa indulgência no julgamento.
Apesar do queijo apresentado de entrada não ter a pretensão de ser candidato a primeiros prémios em concursos internacionais, é suficiente companhia para acompanhar o cair do dia com, por exemplo, um vinhão que vem de longe e faz esquecer o uso intensivo de castas francesas nos vinhos da região de Lisboa.
E há as pataniscas e o arroz de feijão.
E os jaquinzinhos (chiuuuuu!) que se perdoam pelo bem que sabem (e pela fritura próxima do exemplar).
Mas há limites. Quando os preços começam a ser mais baseados na vista do que na preparação culinária e esta começa a avisar que não se aguenta na experiência - como o arroz de tomate provado a semana passada que mais parecia saído da primeira tentativa de uso de fundos knorr de uma infantil mestre-cuca - pergunto-me se não será melhor começar a pensar em trazer cesta de piquenique e acampar no relvado adjacente, deixando aos turistas o incómodo da experimentação.
Comentários