Gastronomia açoriana, à vol de cagarro
Desafio: o panorama gastronómico dos Açores em menos de 5000 caracteres (valeram os anexos...). Perdoem-me - e alertem-me para - as eventuais imprecisões.
Os Açores situam-se no meio do Atlântico Norte – e esse isolamento poderia indicar uma cultura culinária uniforme. Engano. O afastamento entre os três grupos de ilhas, a sua maior ou menor proximidade das rotas transatlânticas, a geografia, tectónica e dimensões de cada ilha, história, origens dos seus primeiros povoadores e componentes sociológicas e antropológicas das diversas vagas de novos habitantes, as riquezas agrícolas particulares que suscitaram períodos de trocas comerciais com a Europa, todos ditaram, tendo como pano de fundo uma sentida açorianidade, uma diversidade pujante.
Como a sintetizar em poucas palavras?
O peixe abundante: 80 espécies exploradas comercialmente numa faina maioritariamente artesanal (e a actividade económica mais relevante do arquipélago). Destaquem-se as espécies pouco encontradas no continente - anchova, bagre, bicudo, boca negra, cântaro, cantarino, bodião, boga, bonito, encharéu, gata, lixa, lírio, mero, moreia, peixe rei, rocaz, serra, veja – e o atum, base da indústria conserveira .
Ainda do mar, lagostas, cavacos, santolas, caranguejos, lapas, cracas . As amêijoas, exclusivo afamado de São Jorge .
A produção láctea, directamente ligada às excelentes condições de pastagem que todas as ilhas apresentam, sendo a de gado bovino preponderante. Queijo, iogurtes, manteiga, os produtos derivados produzidos.
O Queijo de São Jorge (“ilha”) e o Queijo de “S. João” do Pico são DOP. Destaque para o “Queijo do Corvo”, o “Queijo Velho” (S. Miguel), o “Ilha Branca” (Graciosa), o popular “Terra Nostra - flamengo” ( S. Miguel), a variedade “ilha” de S. Miguel.
Do porco, os torresmos de molho de fígado e os enchidos - morcelas (especialmente as micaelenses), linguiça.
Dos temperos, a malagueta, a açaflor.
Da terra, o inhame, o limão galego, o ananás de S. Miguel DOP, o maracujá DOP; maçãs, peras, damascos, pêssegos, ameixas, laranjas e figo do Pico; araçá, anona.
Com tudo isto se elaboram preparações magníficas:
Nos doces , relevo para uma herança árabe continental - o alfenim - e destaque para tudo o mais:
Mel dos Açores DOP, dois tipos: mel de néctar centrifugado (incolor amarelado, com uma consistência fluida e um sabor muito doce e típico) - obtido principalmente a partir dos néctares de incenso; mel multiflora (castanho escuro).
Vinho DOP e não só .
O tabaco e a beterraba sacarina em decréscimo, pela PAC.
São Miguel possui as duas únicas plantações comerciais de chá da Europa – o Gorreana e o Porto Formoso. São Jorge, a única produção europeia de café.
Para terminar, registe-se o impacto gastronómico que em todo o arquipélago têm as funções das festas do Espírito Santo.
E porque há quem muito bem sobre tudo isto escreva e pense e publique, aqui ficam todas as fontes, com destaque para esse açoriano de mau feitio mas grande coração João Vasconcelos Costa e lembrando Augusto Gomes, cuja obra, infelizmente incompleta, constitui o trabalho mais aprofundado sobre a gastronomia de três das ilhas do arquipélago, S. Miguel, Terceira e Santa Maria.
Os Açores situam-se no meio do Atlântico Norte – e esse isolamento poderia indicar uma cultura culinária uniforme. Engano. O afastamento entre os três grupos de ilhas, a sua maior ou menor proximidade das rotas transatlânticas, a geografia, tectónica e dimensões de cada ilha, história, origens dos seus primeiros povoadores e componentes sociológicas e antropológicas das diversas vagas de novos habitantes, as riquezas agrícolas particulares que suscitaram períodos de trocas comerciais com a Europa, todos ditaram, tendo como pano de fundo uma sentida açorianidade, uma diversidade pujante.
Como a sintetizar em poucas palavras?
O peixe abundante: 80 espécies exploradas comercialmente numa faina maioritariamente artesanal (e a actividade económica mais relevante do arquipélago). Destaquem-se as espécies pouco encontradas no continente - anchova, bagre, bicudo, boca negra, cântaro, cantarino, bodião, boga, bonito, encharéu, gata, lixa, lírio, mero, moreia, peixe rei, rocaz, serra, veja – e o atum, base da indústria conserveira .
Ainda do mar, lagostas, cavacos, santolas, caranguejos, lapas, cracas . As amêijoas, exclusivo afamado de São Jorge .
(Fonte: OMA ‐ Observatório do Mar dos Açores http://www.oma.pt) |
A produção láctea, directamente ligada às excelentes condições de pastagem que todas as ilhas apresentam, sendo a de gado bovino preponderante. Queijo, iogurtes, manteiga, os produtos derivados produzidos.
O Queijo de São Jorge (“ilha”) e o Queijo de “S. João” do Pico são DOP. Destaque para o “Queijo do Corvo”, o “Queijo Velho” (S. Miguel), o “Ilha Branca” (Graciosa), o popular “Terra Nostra - flamengo” ( S. Miguel), a variedade “ilha” de S. Miguel.
Omnipresentes na paisagem, disfrutando das extensas áreas de pastagem , os bovinos com IGP “Carne dos Açores” . A carne de coloração mais escura que o habitual e um sabor específico, devido à alimentação à base de pasto natural.
Do porco, os torresmos de molho de fígado e os enchidos - morcelas (especialmente as micaelenses), linguiça.
Dos temperos, a malagueta, a açaflor.
Da terra, o inhame, o limão galego, o ananás de S. Miguel DOP, o maracujá DOP; maçãs, peras, damascos, pêssegos, ameixas, laranjas e figo do Pico; araçá, anona.
Com tudo isto se elaboram preparações magníficas:
Nos doces , relevo para uma herança árabe continental - o alfenim - e destaque para tudo o mais:
Mel dos Açores DOP, dois tipos: mel de néctar centrifugado (incolor amarelado, com uma consistência fluida e um sabor muito doce e típico) - obtido principalmente a partir dos néctares de incenso; mel multiflora (castanho escuro).
Vinho DOP e não só .
O tabaco e a beterraba sacarina em decréscimo, pela PAC.
São Miguel possui as duas únicas plantações comerciais de chá da Europa – o Gorreana e o Porto Formoso. São Jorge, a única produção europeia de café.
Para terminar, registe-se o impacto gastronómico que em todo o arquipélago têm as funções das festas do Espírito Santo.
E porque há quem muito bem sobre tudo isto escreva e pense e publique, aqui ficam todas as fontes, com destaque para esse açoriano de mau feitio mas grande coração João Vasconcelos Costa e lembrando Augusto Gomes, cuja obra, infelizmente incompleta, constitui o trabalho mais aprofundado sobre a gastronomia de três das ilhas do arquipélago, S. Miguel, Terceira e Santa Maria.
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