Le junk food***


O que define a junk food? A pouca qualidade intrínseca dos ingredientes? A fraca qualidade nutricional dos mesmos? O desequilíbrio da dieta? A rapidez da execução e a pressa da degustação? O excesso da componente fritura, da presença de óleo e carboidratos? A cuidada manipulação de aditivos para cativar e viciar os mais desprevenidos?

A definição é, porventura, mais difícil que o consenso na atribuição da etiqueta a este ou aquele produto, desta ou daquela marca.

Tipos de comida não são, de imediato, lixo. Um hamburguer não é, por si só, junk food. Nem uma pizza, um kebab ou um prato de feijão com carne picada. E, no entanto, estes serão talvez os ícones mais presentes dessa mediatizada indústria de restauração rápida e barata que muitos amam odiar sem, no entanto, lhe fechar a porta num dia de maior pressa ou aperto financeiro.

Por isso me confunde quem, cavalgando a moda do conceito "tasconómico", numa pirueta de marketing suplementar, ouse casar conceitos, ouse casar levianamente o lixo com o luxo. Desculpem lá, uma coisa invalida a outra. A pizza da minha Susana não será junk nem que a troika nos perdoe a dívida.



De Paris, chegam ecos desta moda, esperando eu que seja passageira, sob pena de, mais tarde ou mais cedo, a mesma aportar a Lisboa, como sempre a pé-coxinho e mal medida (leia-se: aproveitando o conceito para continuar a vender junk-junk a preços luxo-luxo, como já começa a acontecer em algumas "tascas" de "autor").

Primeiro anúncio - prenúncio? - o livro de Brice Morvent ( "Porquê um livro sobre a Junk Food? - Porque ela faz parte da nossa vida! Pertenço a uma geração que assistiu à chegada dos fast-food e que cresceu com a industrialização da alimentação").



A intenção do livro, segundo o autor, é a de "desindustrializar a junk food, elaborando o próprio as suas receitas com bons produtos frescos - humanizar a junk food!". Conceitos estranhos, digo eu: produtos bons e frescos continuam a permitir comida de lixo? Desindustrializar significa retirar também a segurança alimentar que é, talvez, a única qualidade, que os produtos utilizados na fast food têm?



(Fonte: aucomptoirdebrice.com)
Curiosamente, da ementa do restaurante - Au Comptoir de Brice) nem vestígios existem a assumir a filiação junk-chique.


(Fonte: http://lestasters.blogspot.pt/2013/08/the-sunken-chip-fish-chips.html)
Num registo mais próximo do que os continentais se habituaram a considerar - os desdenhosos! - como regional junk, o The Sunken Chip, também em Paris, ousa essa aterradora proposta que é vender gastronomia inglesa, especificamente fish 'n chips, obviamente sob o capacete politicamente correcto do peixe bretão, pescado à linha... Cozinha popular, with a twist, onde é que já ouvimos isto?
(Fonte: http://lestasters.blogspot.pt/2013/08/the-sunken-chip-fish-chips.html)
Frederic Peneau, co-proprietário de dois dos mais badalados locais da capital - Le Dauphin e Le Chateubriand (chef Inaki Aizpitarte, design de interiores by Rem Koolhaas e Clement Blanchet) - aderiu igualmente à moda, criando o conceito do kebab fino e um restaurante à sua volta: Le Grillé. Preços comportáveis pela classe média local (8 euros por um kebab, 10 euros o menu).


(Fonte: http://www.thedwichtorialist.com/)
A junk food do Grillé é como as calças de ganga rasgadas da Moschino: uma falsidade. Carne seleccionada, fornecida pelo mais celebrado talhante (eu diria meat expert) da capital, Hugo Desnoyer , vitelos de mama, cordeiro ou porco dependendo do dia, passados na salamandra com limão e saké. Pão feito com uma mistura de milho e espelta biológicos, sem fermento, cozido na casa, formato galette. Molhos branco (queijo branco e rábano), verde (tomate e pimento verdes), vermelho (tomate e pimento vermelho). Guarnições com salada verde, hortelã, salsa, coentro, azeitonas, queijo feta, limão confitado. Um luxo na boca em ambiente cuidadamente desligado.



(Fonte: http://www.thedwichtorialist.com/)
Façam-me um favor: continuem a cozinhar coisas que bem nos sabem, mas deixem lá os palavrões para os canhestros...

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