Vitor Matos, o triunfo do barroco
(Peixe em Lisboa, Abril de 2013)
Não sei se por deslumbramento dos novos produtos, se por entusiasmo de tudo dar a provar, se por orgulho nas suas capacidades técnicas, os pratos que Vitor Matos apresentou no Peixe em Lisboa pareciam retirados de um catálogo de exposição de peças barrocas, tal a profusão de adereços, a multiplicação de estímulos, a explosão de detalhes.
Depois da lição de como a simplicidade pode ser elevada à perfeição com que, na véspera, Mauro Uliassi tinha brindado a assistência, os caminhos do chef da Casa da Calçada foram bem diferentes e, para mim, num nível bem mais terreno.
Com um discurso incongruente com o que estava a realizar - "não faço cozinha molecular", dizia, ao mesmo tempo que recorria a géis, espumas, esferificações, ares - entusiasmou-se o estrelado chef português a adicionar camada atrás de camada de elementos secundários a cada um dos pratos.
Como um mestre barroco, nunca satisfeito com a miríade de pormenores já colocados na obra, eternamente no receio de se esquecer de um último pormenor, uma última referência, um derradeiro apontamento.
Pobre da cavala, afogada em tanta companhia. Para quê recolocar-lhe a pele - crua, unicamente decorativa - se, de seguida, é afogada em tanto complemento visual?
Qual o elemento principal que se quer realçar no meio de tanta erva, tanta flor, tanta espuma, tanta esferificação?
Para que serve a cuidada preparação e o lento construir de um prato quando a base é desta maneira distractiva, afogando tudo o mais?
Calma, chef. Às vezes, less is (much) more.
Não sei se por deslumbramento dos novos produtos, se por entusiasmo de tudo dar a provar, se por orgulho nas suas capacidades técnicas, os pratos que Vitor Matos apresentou no Peixe em Lisboa pareciam retirados de um catálogo de exposição de peças barrocas, tal a profusão de adereços, a multiplicação de estímulos, a explosão de detalhes.
Depois da lição de como a simplicidade pode ser elevada à perfeição com que, na véspera, Mauro Uliassi tinha brindado a assistência, os caminhos do chef da Casa da Calçada foram bem diferentes e, para mim, num nível bem mais terreno.
Com um discurso incongruente com o que estava a realizar - "não faço cozinha molecular", dizia, ao mesmo tempo que recorria a géis, espumas, esferificações, ares - entusiasmou-se o estrelado chef português a adicionar camada atrás de camada de elementos secundários a cada um dos pratos.
Como um mestre barroco, nunca satisfeito com a miríade de pormenores já colocados na obra, eternamente no receio de se esquecer de um último pormenor, uma última referência, um derradeiro apontamento.
(Asam Kirche, Munique ; Foto: Michael Freisen) |
Qual o elemento principal que se quer realçar no meio de tanta erva, tanta flor, tanta espuma, tanta esferificação?
Para que serve a cuidada preparação e o lento construir de um prato quando a base é desta maneira distractiva, afogando tudo o mais?
Calma, chef. Às vezes, less is (much) more.
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