Culinary Arts 2.04 - O Vitor em Lisboa
Vou começar por corrigir uma injustiça, aproveitando a boleia da homenagem que o Chefe Nuno Diniz decidiu - em boa hora! - prestar ao restaurante O Vítor, e que consistiu na ominosa omissão feita à nossa visita / descoberta desta casa, no passado passeio de Agosto, ao Minho.
Pois O Vítor é um refúgio,
de bem comer o extraordinário bacalhau a que o Norte ainda tem acesso,
(Por momentos, apeteceu-me uma sombra numa praia desconectada, mesa tosca e bancos de correr, um destes espécimes só para mim, pão alentejano com crosta estaladiça, pichel de vinho fresco, batatas com casca e sal grosso, almotolia devidamente atestada de azeite virgem e tempo. Tempo.)
Dia ainda mais de festa, saudação com uma flute deste Borlido, bolha muito suave, a enlear-nos a expectativa, a deixar a mente deambulante pelo rio tranquilo onde a língua brincava.
Na mesa, início da apresentação. Confusão no prato (sim, empratadores completamente derrotados pela pujança campesina do fumeiro barrosão), mas que preço menor pelas delícias provadas! Pobres dos bolinhos, a fazer figura de intelectuais no meio de tantos jogadores de rugby, logo eles que, a solo, se mostrariam sólidos representantes da tradição minhota!...
(Voltando à imagem da praia: na mesa, mais um panito, outro pichel, tarro de azeitonas galegas e um queijinho de ovelha curado para contrabalançar.)
Finalmente, perante nós, o aguardado prato:
E como se este privilégio e a sua repetição fossem insuficientes, lá chegou o Vinhão (servido no restaurante),
Faltou o cante (de que só ouvi os ecos que, enquanto degustava a peça, a memória me disponibilizou),
que me deixaria recostado a evocar a sobra de um chaparro numa estiada tarde musicada pelas cigarras, enquanto provava o leite-creme, digno final de uma digníssima refeição.
Pois O Vítor é um refúgio,
de bem comer o extraordinário bacalhau a que o Norte ainda tem acesso,
(ao contrário das raquíticas e mal curadas postas que pelo Sul circulam, quase unanimemente), muito bem antecedido pelos pasteis-que-lá-para-cima-e-também-nos-Brasis-são-bolinhos de bacalhau,
ou por um dos enchidos que - isso é comum a todo o país - são de truz.
N'O Vitor come-se bacalhau assado
com batatas a murro,
e o resto é paisagem.
Em São João de Rei, Póvoa de Lanhoso, perto do Gerês, um lugar onde vale a pena amesendar. Pela comida, pela simpatia do anfitrião e restante pessoal, pelo cantinho de nós que lá renovamos.
Falando de paisagem, era esta a que encontrámos, ao passar pelo pátio contíguo à sala de refeições:
(Por momentos, apeteceu-me uma sombra numa praia desconectada, mesa tosca e bancos de correr, um destes espécimes só para mim, pão alentejano com crosta estaladiça, pichel de vinho fresco, batatas com casca e sal grosso, almotolia devidamente atestada de azeite virgem e tempo. Tempo.)
Dia ainda mais de festa, saudação com uma flute deste Borlido, bolha muito suave, a enlear-nos a expectativa, a deixar a mente deambulante pelo rio tranquilo onde a língua brincava.
Na mesa, início da apresentação. Confusão no prato (sim, empratadores completamente derrotados pela pujança campesina do fumeiro barrosão), mas que preço menor pelas delícias provadas! Pobres dos bolinhos, a fazer figura de intelectuais no meio de tantos jogadores de rugby, logo eles que, a solo, se mostrariam sólidos representantes da tradição minhota!...
(Voltando à imagem da praia: na mesa, mais um panito, outro pichel, tarro de azeitonas galegas e um queijinho de ovelha curado para contrabalançar.)
Sendo dia de festa, engalanou-se o concelho da Póvoa de Lanhoso e acompanhou mestre Vítor à capital, com o verde vinho branco da Quinta Villa Beatriz, verde branco (Loureiro, Trajadura, Arinto). (Merece visita, esta quinta, a avaliar pelas fotografias do site...)
Finalmente, perante nós, o aguardado prato:
(Uma história antiga, ouvida há muito, chegou-me baixinho ao ouvido, "Quando lhe disseram que o Messias tinha nascido, Herodes não pode acreditar que o mesmo tinha vindo ao mundo num estábulo; certamente teria de ter merecido honras de rei, nascido em casa abastada, deitado em berço de ouro!")
Respeito. Perante esta matéria-prima, a única opção só poderia ser esta: simplicidade, simplicidade, simplicidade; expor os acompanhamentos sem mais nada, para além do manto de um azeite superior e deixar a natureza das coisas falar mais alto.
As batatas eram um portento. Aquelas lascas, pecaminosas. Inocentes. Jezebeis. Vestais.Todo o mundo e o seu contrário. Um hino a quinhentos anos de Corte Reais.
E como se este privilégio e a sua repetição fossem insuficientes, lá chegou o Vinhão (servido no restaurante),
para acompanhar uma boquinha do porco fumado alentejano com migas que mestre Nuno reservara, com receio de não ser suficiente o repasto...
Faltou o cante (de que só ouvi os ecos que, enquanto degustava a peça, a memória me disponibilizou),
que me deixaria recostado a evocar a sobra de um chaparro numa estiada tarde musicada pelas cigarras, enquanto provava o leite-creme, digno final de uma digníssima refeição.
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