Culinary Arts 2.11 - From Genesis to revelation
Um dia disseram-me que os Genesis eram uma banda horrorosa.
Estive perto de uma apoplexia.
Depois, concluí que falávamos de dois grupos diferentes: o enorme, exarcebante grupo que brilhava com Peter Gabriel no centro; a outra coisa que vendeu milhões e se vendeu ao pop. Milhões, leve-os o vento.
Acho que o Selling England by the Pound foi o disco que a agulha cá de casa mais gastou. A memória ainda em bom estado que me resta tornou inevitável o trocadilho (it's one o'clock and time for lanche) , quando olhei para o nome do primeiro prato. Depois, em catadupa mais ou menos apócrifa, conjugaram-se pedaços da lírica gabrieliana com as propostas da semana, elaboradas por mãos cada vez mais serenas e seguras. Gostaria de viajar ao futuro, já hoje, para conhecer o resultado a solo de cada uma destas almas, prontas a conquistar o mundo.
"It's one o'clock and time for lunch,
When the sun beats down and I lie on the bench,
I can always hear them talk."
Entradas de barriga de porco, patê de foie gras, bacalhau à braz, ricota. E, sim, quase que os ouvi falar, separados pelo extraordinário verde. Discutiriam méritos próprios, reacções salivares, eflúvios aromáticos? Jogo visual de naipes, prato elementarmente tonal, salvaguardadas as ervas, de texturas múltiplas e complementares. I know what I like.
"Walking across the sitting-room, I turn the television off
Sitting beside you, I look into your eyes
As the sound of motor cars fades in the night time
I swear I saw your face change, it didn't seem quite right
And it's, hello, babe, with your guardian eyes so blue
Hey, my baby, don't you know our love is true
Coming closer with our eyes, a distance falls around our bodies
Out in the garden, the moon seems very bright
Six saintly shrouded men move across the lawn slowly
The seventh walks in front with a cross held high in hand
And it's, hey, babe, your supper's waiting for you
Hey, my baby, don't you know our love is true"
Um achado de Nuno Diniz, este caldo feito com ervilhas cruas, conservando o verde original e acentuando o açúcar presente nas mesmas ao qual se acrescentava um sabor de terra que nunca tinha pressentido. Como uma ilha, a onigiri de santola, recatada noiva, insistia na veracidade da união. Prato a pedir Sol, campo com mar ao fundo, o silêncio de humanos, a companhia das cigarras
"And the nurse will tell you lies
Of a kingdom beyond the skies
But I am lost within this half world
It hardly seems to matter now
Play me my song
Here it comes again
Play me my song
Here it comes again
Just a little bit
Just a little bit more time
Time left to live out my life"
O meu mundo deveria ser sempre deste reino, onde param pargos cozidos em crosta de sal, nabos em caldos profundos de carne, crocantes de arroz hipercozido, burriés renitentes e plenos de mar. Novamente o jogo das texturas, a tonalidade visual. Demonstração clara de como ainda há espaço para novos modos de realçar as características de um produto - o nabo foi inesquecível e conquistou estatuto de referência. A salicórnia a não fazer esquecer que este era, primordialmente, um prato de mar.
"Citizens of Hope and Glory
Time goes by it's "the time of your life"
Easy now, sit you down
Chewing through your Wimpy dreams
They eat without a sound
Digesting England by the pound
Young man says, "You are what you eat", eat well
Old man says, "You are what you wear", wear well
You know what you are, you don't give a damn
Bursting your belt that is your homemade sham"
Rabo de comer à colher, legumes a fazer figura de rijo, um molho de lamber os dedos. Para quê lombo, quando esta já é a perfeição na terra?
"I got sunshine in my stomach
Like I just rocked my baby to sleep
I got sunshine in my stomach
But I can't keep me from creeping sleep
Sleep, deep in the deep"
É isso, o Sol dentro de nós, depois de um bolo de pão absolutamente excepcional de verdade e estes frutos, e o granizado de limão para cortar e dizer que há vida (o ácido do limão) depois da morte (o gelo a contrariar o calor do doce). Nota para a presença minimalista da hortelã. Mondrian não teria equilibrado melhor.
Estive perto de uma apoplexia.
Depois, concluí que falávamos de dois grupos diferentes: o enorme, exarcebante grupo que brilhava com Peter Gabriel no centro; a outra coisa que vendeu milhões e se vendeu ao pop. Milhões, leve-os o vento.
Acho que o Selling England by the Pound foi o disco que a agulha cá de casa mais gastou. A memória ainda em bom estado que me resta tornou inevitável o trocadilho (it's one o'clock and time for lanche) , quando olhei para o nome do primeiro prato. Depois, em catadupa mais ou menos apócrifa, conjugaram-se pedaços da lírica gabrieliana com as propostas da semana, elaboradas por mãos cada vez mais serenas e seguras. Gostaria de viajar ao futuro, já hoje, para conhecer o resultado a solo de cada uma destas almas, prontas a conquistar o mundo.
"It's one o'clock and time for lunch,
When the sun beats down and I lie on the bench,
I can always hear them talk."
Entradas de barriga de porco, patê de foie gras, bacalhau à braz, ricota. E, sim, quase que os ouvi falar, separados pelo extraordinário verde. Discutiriam méritos próprios, reacções salivares, eflúvios aromáticos? Jogo visual de naipes, prato elementarmente tonal, salvaguardadas as ervas, de texturas múltiplas e complementares. I know what I like.
"Walking across the sitting-room, I turn the television off
Sitting beside you, I look into your eyes
As the sound of motor cars fades in the night time
I swear I saw your face change, it didn't seem quite right
And it's, hello, babe, with your guardian eyes so blue
Hey, my baby, don't you know our love is true
Coming closer with our eyes, a distance falls around our bodies
Out in the garden, the moon seems very bright
Six saintly shrouded men move across the lawn slowly
The seventh walks in front with a cross held high in hand
And it's, hey, babe, your supper's waiting for you
Hey, my baby, don't you know our love is true"
Um achado de Nuno Diniz, este caldo feito com ervilhas cruas, conservando o verde original e acentuando o açúcar presente nas mesmas ao qual se acrescentava um sabor de terra que nunca tinha pressentido. Como uma ilha, a onigiri de santola, recatada noiva, insistia na veracidade da união. Prato a pedir Sol, campo com mar ao fundo, o silêncio de humanos, a companhia das cigarras
"And the nurse will tell you lies
Of a kingdom beyond the skies
But I am lost within this half world
It hardly seems to matter now
Play me my song
Here it comes again
Play me my song
Here it comes again
Just a little bit
Just a little bit more time
Time left to live out my life"
O meu mundo deveria ser sempre deste reino, onde param pargos cozidos em crosta de sal, nabos em caldos profundos de carne, crocantes de arroz hipercozido, burriés renitentes e plenos de mar. Novamente o jogo das texturas, a tonalidade visual. Demonstração clara de como ainda há espaço para novos modos de realçar as características de um produto - o nabo foi inesquecível e conquistou estatuto de referência. A salicórnia a não fazer esquecer que este era, primordialmente, um prato de mar.
"Citizens of Hope and Glory
Time goes by it's "the time of your life"
Easy now, sit you down
Chewing through your Wimpy dreams
They eat without a sound
Digesting England by the pound
Young man says, "You are what you eat", eat well
Old man says, "You are what you wear", wear well
You know what you are, you don't give a damn
Bursting your belt that is your homemade sham"
Rabo de comer à colher, legumes a fazer figura de rijo, um molho de lamber os dedos. Para quê lombo, quando esta já é a perfeição na terra?
"I got sunshine in my stomach
Like I just rocked my baby to sleep
I got sunshine in my stomach
But I can't keep me from creeping sleep
Sleep, deep in the deep"
(Fotografia de Miguel Cruz) |
(Fotografia de Nuno Diniz) |
Comentários