Peixe em Lisboa 2015 - Quique Dacosta em forma
Que prazer encontrar alguém que alia ao seu prazer, o prazer que nos dá!
Nem mais. Três vezes prazer, logo na primeira frase, para alertar quem me lê.
O Quique Dacosta foi o primeiro grande chefe internacional de renome a realizar um showcooking no Peixe e terá sido o primeiro a demonstrar que, não só lhe ficava muito bem aplicado o estatuto de grande criador culinário como era inteiramente merecido o adjectivo "estrela", normalmente aposto, pela comunicação social, antes do seu nome.
Agora, bem-vindo de novo, voltou a encantar os muitos que sobrelotaram o pavilhão de eventos, novamente postado, qual farol cullinário, à ilharga desse José temeroso e tímido que deixou ao Marquês a dupla tarefa de construir a glória e a designar a glória de cada um.
Não sei do que gostei mais - se da beleza plástica de cada prato, se das sugestões de uso, combinação e preparação de cada matéria-prima, actriz principal ou coadjuvante, se da tranquilidade dos videos, sem exibicionismos desnecessários nem feéries desconcertantes, se do ar deliciado pós-coital que a generalidade dos mais entendidos, mais metidos no metier, mais dedicados à coisa (e quando estes, meus amigos são, mais se lhes adivinhava o prolongado prazer sentido) exibia, no final da apresentação.
A registar, para memória futura das modas que hão-de chegar, daqui a algum tempo, a alguns restaurantes modalizados da urbe, como absoluta novidade&inovação: o uso do plâncton como forma de aprofundamento dos sabores marinhos (e aqui relembro o show cooking de Angel Leon que, há três anos, tanto me entusiasmou e anunciou, penso eu pela primeira vez em Portugal, o trabalho pioneiro com plâncton que o cozinheiro de Puerto de Santa Maria lá levava a cabo); o cada vez mais inventivo uso de, já não pratos, antes suportes mais ou menos rígidos de uma preparação, com recurso a novos materiais e matérias-primas, algumas comestíveis - ou, inversamente, o uso de novas matérias comestíveis em substituição da fatia de pão em sandes, abertas ou fechadas.
De resto, o habitual - mas pelos vistos ainda pouco assimilado entre nós - respeito pelos produtos e pela memória dos pratos ancestrais.
Permitam-me que explique, assim a modo de recados múltiplos dirigidos a vários mundos:
- A cozinha contemporânea não é sinónimo de iconoclastia obrigatória;
- A iconoclastia usada dirige-se às ideias feitas, apresentando, mais que respostas, novas perguntas;
- As novas perguntas ajudam, mais que prejudicam, as matérias-primas endógenas;
- As matérias primas endógenas não são incompatíveis com técnicas e formas recém-chegadas;
- As técnicas contemporâneas não são exclusivas, nem dos recursos tradicionais, nem da cozinha de memória;
- Finalmente, ser-se contemporâneo não obriga a que se seja modernista, muito menos modernaço; inversamente, ser-se tradicional não obriga a que se seja reaccionário, muito menos passadista.
Voltando ao princípio: o prazer, o prazer, dado e sentido, é que é importante. Aliás, é a única coisa importante.
Nem mais. Três vezes prazer, logo na primeira frase, para alertar quem me lê.
O Quique Dacosta foi o primeiro grande chefe internacional de renome a realizar um showcooking no Peixe e terá sido o primeiro a demonstrar que, não só lhe ficava muito bem aplicado o estatuto de grande criador culinário como era inteiramente merecido o adjectivo "estrela", normalmente aposto, pela comunicação social, antes do seu nome.
Agora, bem-vindo de novo, voltou a encantar os muitos que sobrelotaram o pavilhão de eventos, novamente postado, qual farol cullinário, à ilharga desse José temeroso e tímido que deixou ao Marquês a dupla tarefa de construir a glória e a designar a glória de cada um.
Não sei do que gostei mais - se da beleza plástica de cada prato, se das sugestões de uso, combinação e preparação de cada matéria-prima, actriz principal ou coadjuvante, se da tranquilidade dos videos, sem exibicionismos desnecessários nem feéries desconcertantes, se do ar deliciado pós-coital que a generalidade dos mais entendidos, mais metidos no metier, mais dedicados à coisa (e quando estes, meus amigos são, mais se lhes adivinhava o prolongado prazer sentido) exibia, no final da apresentação.
A registar, para memória futura das modas que hão-de chegar, daqui a algum tempo, a alguns restaurantes modalizados da urbe, como absoluta novidade&inovação: o uso do plâncton como forma de aprofundamento dos sabores marinhos (e aqui relembro o show cooking de Angel Leon que, há três anos, tanto me entusiasmou e anunciou, penso eu pela primeira vez em Portugal, o trabalho pioneiro com plâncton que o cozinheiro de Puerto de Santa Maria lá levava a cabo); o cada vez mais inventivo uso de, já não pratos, antes suportes mais ou menos rígidos de uma preparação, com recurso a novos materiais e matérias-primas, algumas comestíveis - ou, inversamente, o uso de novas matérias comestíveis em substituição da fatia de pão em sandes, abertas ou fechadas.
De resto, o habitual - mas pelos vistos ainda pouco assimilado entre nós - respeito pelos produtos e pela memória dos pratos ancestrais.
Permitam-me que explique, assim a modo de recados múltiplos dirigidos a vários mundos:
- A cozinha contemporânea não é sinónimo de iconoclastia obrigatória;
- A iconoclastia usada dirige-se às ideias feitas, apresentando, mais que respostas, novas perguntas;
- As novas perguntas ajudam, mais que prejudicam, as matérias-primas endógenas;
- As matérias primas endógenas não são incompatíveis com técnicas e formas recém-chegadas;
- As técnicas contemporâneas não são exclusivas, nem dos recursos tradicionais, nem da cozinha de memória;
- Finalmente, ser-se contemporâneo não obriga a que se seja modernista, muito menos modernaço; inversamente, ser-se tradicional não obriga a que se seja reaccionário, muito menos passadista.
Voltando ao princípio: o prazer, o prazer, dado e sentido, é que é importante. Aliás, é a única coisa importante.
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