Casamentos
Luísa Menezes e Joaquim Arnaud: Quinta dos Plátanos e Moscatel de Setúbal no Il Matriciano |
Desde há muito me estranha a dicotomia, neste país de consumidores preferentes de vinho à mesa, entre a prova de vinho feita "a seco" e o seu destino usual de casamentado com noiva gastronómica mais ou menos de conveniência. Como apreciar as qualidades de um vinho que nos surgem numa prova sem coadjuvantes se, combinadas com a refeição, elas se alterão forçosamente, realçadas umas, anuladas outras, glorificado o conjunto quando a boda é bem planeada, destruído o trabalho de muitos quando efectuada à força ou displicentemente?
Um jantar vínico permite adicionar à prova solitária uma sugestão de harmonização que, bem pensada e bem executada, realçará, em muito, as características marcantes do vinho apresentado. Assim também o pensaram os proprietários da Quinta dos Plátanos, produtores das marcas homónima e Plátanos que, associados a Joaquim Arnaud (com o seu Moscatel de Setúbal), realizaram o 1º Jantar Vínico Quinta dos Plátanos, no passado dia 27, no restaurante Il Matriciano, em Lisboa.
Belo jantar, pelas mãos do Chef Maurizio Traina, numa casa que vai firmando a honestidade da sua cozinha de rota italiana, num espaço sedutor, com algumas harmonizações mais fora do conservadorismo dominante mas de justeza confirmada na prova.
Na pequena esplanada da entrada, com vista para a casa da voz da Nação (or so they say)
serviu-se o Quinta dos Plátanos Tinto 2010, harmonizado com arrosticini (espetadinhas de carne de borrego). Ainda em território "seguro", um bom tinto de entrada, num ambiente descontraído, a aproveitar a luz de fim de tarde e as arquitecturas oitocentistas da envolvente, conversas descontraídas, apresentações, uma comum expectativa pelo seguimento.
Na mesa, uma primeira entrada, Mozzarella di búfala con prosciutto di Parma, harmonizada com o branco Quinta dos Plátanos 2013 o qual aguentou o balanço com o presunto,
vindo a mostrar-se soberbo no confronto com a segunda entrada, Melanzane alla Parmiggiana (beringela com queijo parmesão, mozzarella e molho de tomate), dissipando parte do ácido do tomate, sem desaparecer nem se agigantar.
A esta aposta bem ganha, seguiu-se um novo desafio: o Plátanos Arinto 2013 com Tagliatelle al Tartufo (com azeite de trufa). A acidez da casta esteve controlada na relação com a gordura do prato, não se impondo, ainda que sendo suficiente para amenizar a impetuosidade dos queijos. Bom começo dos primmi piatti e um par de brancos da casa a manter em carteira para encontros futuros.
Com o Risotto con noci, taleggio e pere (nozes, queijo taleggio e pera) que se seguiu, entrou-se em terrenos de maior peso, a pedir perfis vínicos mais encorpados, a presença de taninos, desejo a que o Plátanos X 2013 (com o "X" a definir exactamente o que o vinho ainda é - um projecto com características ainda no segredo dos produtores, com bom corpo, onde se conseguiu descobrir a presença de Touriga Nacional (e de... Syrah?) e que promete ser um sucesso), em ante-estreia, acedeu. Prato saborosíssimo, com algumas dificuldades de agregação, pela extrema untuosidade, pelas diferentes texturas a requerer diferentes abordagens, muito bem contrabalançadas pela ligeira acidez e a elegância de corpo.
Como segundo prato, um Genovese (lombo de porco estufado com puré de batata) delicioso, com o Plátanos Tou Noir 2010 a acompanhar. Com Touriga Nacional e Pinot Noir na composição, uma curiosa nota de pimentos (que, para todo o sempre, serão um par perfeito para o porco) nada característica das castas utilizadas, um corpo que não satura e um equilíbrio que pede mais prova, tanto para complementar como para saborear em intervalo entre garfadas, foi fecho de ouro para a apresentação dos produtos Plátanos.
E para terminar, as sobremesas em casamento com o Moscatel de Setúbal 2012 Joaquim Arnaud. Generoso menos lembrado aquando da evocação das glórias lusas da área (Porto, Madeira), o moscatel originado nas encostas da peninsula, quando bem trabalhado, é companhia apetecível. No caso presente, a presente nota de resina acrescenta emoção à doçura genérica, aumentando o prazer de um Tiramisu de cerrar os olhos e suspirar, ao qual se acrescentou uma muito boa Crostate artigianali di ricotta e cioccolato (tarte com recheio de ricotta e chocolate).
Em conclusão, noite de casamentos felizes, noite de descobertas e confirmações, noite de gastronomia e vinhos na sua melhor função: de nos casar com a vida, pelo prazer que advém da experiência, da companhia, do ambiente. Que assim continue.Um jantar vínico permite adicionar à prova solitária uma sugestão de harmonização que, bem pensada e bem executada, realçará, em muito, as características marcantes do vinho apresentado. Assim também o pensaram os proprietários da Quinta dos Plátanos, produtores das marcas homónima e Plátanos que, associados a Joaquim Arnaud (com o seu Moscatel de Setúbal), realizaram o 1º Jantar Vínico Quinta dos Plátanos, no passado dia 27, no restaurante Il Matriciano, em Lisboa.
Belo jantar, pelas mãos do Chef Maurizio Traina, numa casa que vai firmando a honestidade da sua cozinha de rota italiana, num espaço sedutor, com algumas harmonizações mais fora do conservadorismo dominante mas de justeza confirmada na prova.
Na pequena esplanada da entrada, com vista para a casa da voz da Nação (or so they say)
serviu-se o Quinta dos Plátanos Tinto 2010, harmonizado com arrosticini (espetadinhas de carne de borrego). Ainda em território "seguro", um bom tinto de entrada, num ambiente descontraído, a aproveitar a luz de fim de tarde e as arquitecturas oitocentistas da envolvente, conversas descontraídas, apresentações, uma comum expectativa pelo seguimento.
Na mesa, uma primeira entrada, Mozzarella di búfala con prosciutto di Parma, harmonizada com o branco Quinta dos Plátanos 2013 o qual aguentou o balanço com o presunto,
vindo a mostrar-se soberbo no confronto com a segunda entrada, Melanzane alla Parmiggiana (beringela com queijo parmesão, mozzarella e molho de tomate), dissipando parte do ácido do tomate, sem desaparecer nem se agigantar.
A esta aposta bem ganha, seguiu-se um novo desafio: o Plátanos Arinto 2013 com Tagliatelle al Tartufo (com azeite de trufa). A acidez da casta esteve controlada na relação com a gordura do prato, não se impondo, ainda que sendo suficiente para amenizar a impetuosidade dos queijos. Bom começo dos primmi piatti e um par de brancos da casa a manter em carteira para encontros futuros.
Com o Risotto con noci, taleggio e pere (nozes, queijo taleggio e pera) que se seguiu, entrou-se em terrenos de maior peso, a pedir perfis vínicos mais encorpados, a presença de taninos, desejo a que o Plátanos X 2013 (com o "X" a definir exactamente o que o vinho ainda é - um projecto com características ainda no segredo dos produtores, com bom corpo, onde se conseguiu descobrir a presença de Touriga Nacional (e de... Syrah?) e que promete ser um sucesso), em ante-estreia, acedeu. Prato saborosíssimo, com algumas dificuldades de agregação, pela extrema untuosidade, pelas diferentes texturas a requerer diferentes abordagens, muito bem contrabalançadas pela ligeira acidez e a elegância de corpo.
Como segundo prato, um Genovese (lombo de porco estufado com puré de batata) delicioso, com o Plátanos Tou Noir 2010 a acompanhar. Com Touriga Nacional e Pinot Noir na composição, uma curiosa nota de pimentos (que, para todo o sempre, serão um par perfeito para o porco) nada característica das castas utilizadas, um corpo que não satura e um equilíbrio que pede mais prova, tanto para complementar como para saborear em intervalo entre garfadas, foi fecho de ouro para a apresentação dos produtos Plátanos.
E para terminar, as sobremesas em casamento com o Moscatel de Setúbal 2012 Joaquim Arnaud. Generoso menos lembrado aquando da evocação das glórias lusas da área (Porto, Madeira), o moscatel originado nas encostas da peninsula, quando bem trabalhado, é companhia apetecível. No caso presente, a presente nota de resina acrescenta emoção à doçura genérica, aumentando o prazer de um Tiramisu de cerrar os olhos e suspirar, ao qual se acrescentou uma muito boa Crostate artigianali di ricotta e cioccolato (tarte com recheio de ricotta e chocolate).
Parabéns ao enólogo da casa, Jorge Páscoa, parabéns aos produtores, parabéns ao restaurante.
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