Algarve, roadbook parte 5 - Sagres
No âmbito do Festival da Dieta Mediterrânica, integrado no projecto SlowMed, organizado localmente pela In Loco, no âmbito de uma cooperação inter-estados mediterrânicos, com o apoio da UE, foi organizado um percurso gastronómico por todo o Algarve, com o intuito de dar a conhecer, aos participantes estrangeiros e não só, algumas das especialidades da região.
Magical Mystery Tour, lhe chamaram e teve um pouco de cada: a magia que as paisagens emprestam, da placidez do Guadiana, junto a Alcoutim, à vertigem do promontório de Sagres, o mistério dos saberes ancestrais que transforma cada matéria prima em deliciosas - à vista e ao sabor - preparações.
Nesta série, impressões e visões das várias paragens.
Não discuto - porque para tanto me não chega a erudição - a veracidade da história, do infante solitário esperando a visão das velas regressadas com boas novas, do cimo do promontório. Parece-me mais lenda que realidade, mas, perante este cenário, who cares?
Prefiro deixar racionalismos de lado e adoptar a lenda - também eu perscrutei o horizonte, deixando-me embalar na beleza do pôr-do-Sol, nas cores serenamente mutantes, a zoada constante das ondas e uma ventania capaz de fazer oscilar os mais bem constituídos.
E escutei o Pessoa que decorei há muito, nas férias da sua descoberta, passadas não muito longe fisicamente (em Lagos) mas tão longínquas temporalmente:
Com duas mãos – o Acto e o Destino –
Desvendámos. No mesmo gesto, ao céu
Uma ergue o facho tremulo e divino
E a outra afasta o véu
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Chega de poesia escrita.
Olhei em volta e pensei nas diferentes reacções que tamanho cenário estaria a provocar nos restantes companheiros de viagem: uma admiração puramente geográfica para a maioria, eventualmente o reviver de emoções relacionadas com a evocação subconsciente de memórias, a poucos o privilégio de conhecerem o poeta, mesmo que numa fase mais panfletária.
Sagres. Terra e mar no seu limite. Fés diversas do passado e do presente. No passado e no futuro.
Quanto ao presente, esperava-nos mais uma demonstração em força da vitalidade mas também da diversidade da produção e oferta gastronómica da região. Passar, com uma hora de viagem, de uma linguagem serrana, de pão e carne, produtos da terra e aromas de medronho, para uma intensidade de frescura marinha, de gostos e sensações radicalmente opostas, é a imagem de um Algarve múltiplo, que conseguiu resistir à terraplenagem turística e à desertificação populacional. É amá-lo por isso e, principalmente, saboreá-lo.
O concelho de Vila do Bispo, onde se integra Sagres, orgulha-se muito justamente dos seus frutos do mar.
Organizado pela Associação dos Marisqueiros de Vila do Bispo, o Festival do Percebe realizaria a sua IV edição no fim de semana próximo. Ostras, mexilhões, burgaus, lapas, no programa. À nossa espera, explorado o horizonte, evocado o Infante, enchidos os pulmões de ar salino, uma profusão de percebes e um festim de ostras.
E, voltando a Pessoa, passada a estranheza da forma e do modo de os comer, entranhou-se em todos os que os encontravam pela primeira vez a vontade de os repetir; de, novamente, sentir a vivacidade do mar. Entre eles e as magníficas ostras, se passou uma hora de animado bruaá, interrompido por silenciosos suspiros quando se descobriam as plaisanteries de queijo de figo, do restaurante Eira do Mel.
Terminava a sessão com um licor da Herdade das Romeiras,
e, de (mais um) sorriso nos lábios adocicados, à noite entregávamos o corpo, num descanso breve, que já em Portimão éramos esperados.
Olhei em volta e pensei nas diferentes reacções que tamanho cenário estaria a provocar nos restantes companheiros de viagem: uma admiração puramente geográfica para a maioria, eventualmente o reviver de emoções relacionadas com a evocação subconsciente de memórias, a poucos o privilégio de conhecerem o poeta, mesmo que numa fase mais panfletária.
(Fonte: Festival Internacional Slow Med) |
Quanto ao presente, esperava-nos mais uma demonstração em força da vitalidade mas também da diversidade da produção e oferta gastronómica da região. Passar, com uma hora de viagem, de uma linguagem serrana, de pão e carne, produtos da terra e aromas de medronho, para uma intensidade de frescura marinha, de gostos e sensações radicalmente opostas, é a imagem de um Algarve múltiplo, que conseguiu resistir à terraplenagem turística e à desertificação populacional. É amá-lo por isso e, principalmente, saboreá-lo.
O concelho de Vila do Bispo, onde se integra Sagres, orgulha-se muito justamente dos seus frutos do mar.
Organizado pela Associação dos Marisqueiros de Vila do Bispo, o Festival do Percebe realizaria a sua IV edição no fim de semana próximo. Ostras, mexilhões, burgaus, lapas, no programa. À nossa espera, explorado o horizonte, evocado o Infante, enchidos os pulmões de ar salino, uma profusão de percebes e um festim de ostras.
(Fonte: Município de Vila do Bispo) |
(Fonte: Município de Vila do Bispo) |
(Fonte: Município de Vila do Bispo) |
e, de (mais um) sorriso nos lábios adocicados, à noite entregávamos o corpo, num descanso breve, que já em Portimão éramos esperados.
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