Algarve, roadbook parte 6 - Portimão
No âmbito do Festival da Dieta Mediterrânica, integrado no projecto SlowMed, organizado localmente pela In Loco, no âmbito de uma cooperação inter-estados mediterrânicos, com o apoio da UE, foi organizado um percurso gastronómico por todo o Algarve, com o intuito de dar a conhecer, aos participantes estrangeiros e não só, algumas das especialidades da região.
Magical Mystery Tour, lhe chamaram e teve um pouco de cada: a magia que as paisagens emprestam, da placidez do Guadiana, junto a Alcoutim, à vertigem do promontório de Sagres, o mistério dos saberes ancestrais que transforma cada matéria prima em deliciosas - à vista e ao sabor - preparações.
Nesta série, impressões e visões das várias paragens.
Portimão e o seu porto de pesca, devidamente recolhido dada a hora tardia, de descanso ou de faina, nunca de bulício comercial.
Num local que já foi, mais que fábrica de conservas, fonte de sustento de muitas famílias da cidade antes da revolução turística tudo ter alterado - das forças sociais aos modos de emprego, do urbanismo ao nível de riqueza, das tradições aos novos hábitos -, instalou-se o Museu de Portimão, notável trabalho de fixação da memória de uma povoação fundada no aproveitamento das riquezas que o mar vizinho oferecia e que, apesar da prosperidade trazida pelos veraneantes, percebeu que um sólido futuro é impossível sem um enraizamento forte na identidade do passado.
Grande museu, que nos deixa de queixo caído perante uma realidade muito dura, de uma população feita carne para canhão de uma indústria que, em todo o país, em 1926 chegou a ser de quatro centenas, produzindo, anos mais tarde, um máximo de 34.000 toneladas de conservas. Era o que havia, para o tempo que era, dando eu graças por, apesar da rarefacção destas, o presente acautelar tanta desigualdade, tanto futuro sem horizonte visível, para além do trabalhar e calar, viver frugalmente e criar filhos frugais.
Recuperação atenta, que, na antiga Sala de Descabeço, atinge uma formalidade estética que nos dá ideia do como era mas que suaviza a dureza do trabalho (obliterando os cheiros, o calor, os ruídos): propositadamente, ou não, os manequins que reproduzem os gestos de operárias e operários, têm um rosto neutro (teriam rosto para os empregadores?), estilizado, como estilizados sempre foram os murais marxistas que em seu nome batalharam, e a luz que os ilumina e tudo banha com uma quase monocromia, parece remete-los para o passado de Tempos Modernos e de Metropolis.
Contrastantes, vibrantes na cor e na gula que a sua visão provocava, algumas das possibilidades gastronómicas de alguns dos restaurantes integrantes da "Rota do Petisco",
esperavam-nos, nas antigas bancas de lavagem e corte:
Pratos populares e seculares, algumas novas propostas, num festival que já vai na sua 5ª edição e que conta com a participação de 170 estabelecimentos, distribuídos por Portimão, Praia da Rocha, Alvor, Mexilhoeira Grande, Ferragudo, Silves e Monchique. 146 "petiscos" e 24 "doces regionais", constituem promessa forte, para várias voltas por alguns dos concelhos do Barlavento algarvio.
E assim acabou a jornada. Farta e bela jornada. Farto e acolhedor Algarve gastronómico.
Magical Mystery Tour, lhe chamaram e teve um pouco de cada: a magia que as paisagens emprestam, da placidez do Guadiana, junto a Alcoutim, à vertigem do promontório de Sagres, o mistério dos saberes ancestrais que transforma cada matéria prima em deliciosas - à vista e ao sabor - preparações.
Nesta série, impressões e visões das várias paragens.
Portimão e o seu porto de pesca, devidamente recolhido dada a hora tardia, de descanso ou de faina, nunca de bulício comercial.
Num local que já foi, mais que fábrica de conservas, fonte de sustento de muitas famílias da cidade antes da revolução turística tudo ter alterado - das forças sociais aos modos de emprego, do urbanismo ao nível de riqueza, das tradições aos novos hábitos -, instalou-se o Museu de Portimão, notável trabalho de fixação da memória de uma povoação fundada no aproveitamento das riquezas que o mar vizinho oferecia e que, apesar da prosperidade trazida pelos veraneantes, percebeu que um sólido futuro é impossível sem um enraizamento forte na identidade do passado.
Grande museu, que nos deixa de queixo caído perante uma realidade muito dura, de uma população feita carne para canhão de uma indústria que, em todo o país, em 1926 chegou a ser de quatro centenas, produzindo, anos mais tarde, um máximo de 34.000 toneladas de conservas. Era o que havia, para o tempo que era, dando eu graças por, apesar da rarefacção destas, o presente acautelar tanta desigualdade, tanto futuro sem horizonte visível, para além do trabalhar e calar, viver frugalmente e criar filhos frugais.
Recuperação atenta, que, na antiga Sala de Descabeço, atinge uma formalidade estética que nos dá ideia do como era mas que suaviza a dureza do trabalho (obliterando os cheiros, o calor, os ruídos): propositadamente, ou não, os manequins que reproduzem os gestos de operárias e operários, têm um rosto neutro (teriam rosto para os empregadores?), estilizado, como estilizados sempre foram os murais marxistas que em seu nome batalharam, e a luz que os ilumina e tudo banha com uma quase monocromia, parece remete-los para o passado de Tempos Modernos e de Metropolis.
Contrastantes, vibrantes na cor e na gula que a sua visão provocava, algumas das possibilidades gastronómicas de alguns dos restaurantes integrantes da "Rota do Petisco",
esperavam-nos, nas antigas bancas de lavagem e corte:
Mexilhões de vinagrete |
Pratos populares e seculares, algumas novas propostas, num festival que já vai na sua 5ª edição e que conta com a participação de 170 estabelecimentos, distribuídos por Portimão, Praia da Rocha, Alvor, Mexilhoeira Grande, Ferragudo, Silves e Monchique. 146 "petiscos" e 24 "doces regionais", constituem promessa forte, para várias voltas por alguns dos concelhos do Barlavento algarvio.
E assim acabou a jornada. Farta e bela jornada. Farto e acolhedor Algarve gastronómico.
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