Cozinha libertação
Ilustração tirada do site de Olivia Fraga |
Às vezes questiono-me sobre esta obsessão gastronómica que me ocupa grande parte dos dias. Não estarei a percorrer caminhos próximos da futilidade e insensibilidade quando me dedico a discutir preparações de matérias primas raras, jantares de orçamento equivalente às disponibilidades mensais de uma família afectada pela contínua crise, sentidos e sentimentos perante refeições?
Sei que, para lá desta condição humana de desejar e sentir prazer, está um complexo de indústrias e negócios que, para além dos lucros e exploração obscenos, providencia sustento e trabalho a muitos milhões. Sei também que, apesar da suposta alienação, o seu desaparecimento geraria mais pobreza que qualidade de vida para os por ele explorados
Os chefes, o luxo, a féerie, a exclusividade, são efémeros, poeira dos dias, mas dos nossos dias, das nossas vidas, deste presente inseguro, instável, inquieto mas único e irrepetível - se o recusarmos a viver, será que nos resta a permanente exclusão, um eremitismo orgulhoso e agreste?
Neste balançar de pulsões, por qual optar - pelos grandes movimentos solidários ou pelos solitários prazeres, pela austeridade das morais ou pela brevidade dos momentos?
Um destes dias descobri este documentário e as histórias que ele aborda colocaram tanta coisa em causa,
Gostava de uma valente conversa a muitas vozes, mas parece-me que vou continuar a pensar sózinho (o que é uma ironia, depois do que escrevi mais atrás).
Sei que, para lá desta condição humana de desejar e sentir prazer, está um complexo de indústrias e negócios que, para além dos lucros e exploração obscenos, providencia sustento e trabalho a muitos milhões. Sei também que, apesar da suposta alienação, o seu desaparecimento geraria mais pobreza que qualidade de vida para os por ele explorados
Os chefes, o luxo, a féerie, a exclusividade, são efémeros, poeira dos dias, mas dos nossos dias, das nossas vidas, deste presente inseguro, instável, inquieto mas único e irrepetível - se o recusarmos a viver, será que nos resta a permanente exclusão, um eremitismo orgulhoso e agreste?
Neste balançar de pulsões, por qual optar - pelos grandes movimentos solidários ou pelos solitários prazeres, pela austeridade das morais ou pela brevidade dos momentos?
Um destes dias descobri este documentário e as histórias que ele aborda colocaram tanta coisa em causa,
Gostava de uma valente conversa a muitas vozes, mas parece-me que vou continuar a pensar sózinho (o que é uma ironia, depois do que escrevi mais atrás).
Comentários
Estou disponível para conversar.
E, no entanto, sem essa feira de vaidades, percepcionaríamos algumas dessas propostas gastronómicas da mesma maneira? Voltando ao exemplo dos prisioneiros de várias guerras, não será esse mundo de excesso (em oposição à frugalidade... mínima para a sobrevivência) igualmente, não digo fundamental mas essencial para - através do sonho - um equilíbrio mental?
Estaremos a confundir boçalidade com (de alguma forma) arte? Ou estaremos á procura de desculpas?