De Bruxelas, vinhos portugueses para o novo ano

(Fonte: Zomato)
Criado em 1994, o Concurso Mundial de Bruxelas continua a afirmar-se como uma entidade de referência no mundo dos concursos de vinhos. As três categorias de medalhas atribuídas aos vinhos presentes nas suas edições anuais que atingem os níveis de valoração respectivos são percepcionadas pelos consumidores como um selo de qualidade de confiança, para além de constituírem um veículo de promoção reconhecido tanto pela indústria como pelo o público em geral.

A edição de 2017 admitiu à competição 9080 vinhos provenientes de 50 países, tendo os produtores portugueses enviado um pouco mais de mil referências.

A apreciação dos concorrentes esteve a cargo de um painel internacional de 320 jurados (jornalistas, enólogos, produtores, importadores, retalhistas, escanções, e representantes de regiões vinícolas) que avaliou, em prova cega, as suas diversas características - aparência (limpidez, aspecto) (máximo 10 pontos), aroma (intensidade, genuinidade, qualidade) (máximo 30 pontos), sabor (intensidade, genuinidade, qualidade, persistência) (máximo 40 pontos) e  impressão global (máximo 20 pontos) -, passando o conjunto dos resultados por um processo de validação estatístico que pretende complementar a já elevada qualidade técnica e teórica do grupo. A pontuação final determinou assim o tipo de galardão obtido (ou a sua ausência...), sendo o  galardão máximo - a Grande Médaille d'Or (Grande Medalha de Ouro) (os outros são a Medalha de Ouro e a Medalha de Prata)  atribuído a vinhos com classificação superior a 92 pontos.

Portugal obteve 368 medalhas, das quais se destacam as 15 Grande Ouro, com referências que vão do Douro ao Algarve nos tranquilos e Porto e Madeira nos fortificados.

Em boa hora, os responsáveis portugueses do Concurso, em conjunto com a Zomato, decidiram organizar uma acção de apresentação de alguns destes vinhos, num jantar realizado no restaurante Aura. Vinhos "excepcionais que se distinguem a todos os níveis e em todos os critérios de prova" (de acordo com a definição da medalha), foram eles os seguintes:

Morgado de Sta. Catherina 2015, Branco (Lisboa), Quinta Da Vassala Reserva Chardonnay 2016, Branco (Lisboa), Paxis 2013, Tinto (Lisboa), Herdade do Rocim Alicante Bouschet 2015, Tinto (Alentejo), Quinta de Valle Longo Reserva 2014, Tinto (Porto e Douro), Sexy Tinto 2015, Tinto (Alentejo), Casa Ferreirinha Vinha Grande Tinto 2014, Tinto ( Douro), Rebelde Red 2015, Tinto (Alentejo), Al-Ria Reserva 2015, Tinto (Algarve), Quinta do Espírito Santo Reserva 2013, Tinto (Lisboa).

Os diversos vinhos provados: Morgado de Sta Catherina e Quinta da Vassala (créditos da foto: Zomato),
Paxis, Sexy Red, Herdade do Rocim,Quinta do Espírito Santo, Rebelde, Al-Ria, Quinta da Vinha Grande,
Quinta do Valle Longo, e a terminar, como extra o interessante Moscatel Roxo da Quinta Brejinho da Costa
produzido no litoral do concelho de Grândola, num terroir diferente do habitual da região de Azeitão.
Finalmente, a foto de conjunto dos tintos (créditos da foto: Zomato)
Provando-os a solo, foi possível aos presentes comparar as suas impressões com as juradas qualidades e, perante a diversidade de castas e de características entre vinhos da mesma região ou elaborados com as mesmas castas, não deixar de se maravilhar com a multiplicidade de propostas de qualidade que os produtores nacionais apresentam. Eis como um fisicamente pequeno país se faz grande.

(Fonte: Zomato)
Quanto ao jantar em si, ainda que não deliberadamente, comprovou o longo caminho que enófilos e gastrónomos precisam de percorrer para reunirem os seus mundos. Se, como parece evidente (não só a mim, creio) os vinhos portugueses - pelo menos os feitos com as castas mais "antigamente" nacionais - são o que, às vezes com alguma displicência, se denominam "gastronómicos" (ou seja, são vinhos que têm o potencial de se superlativar quando conjugados com as preparações culinárias apropriadas), é expectável que, no caso da sua apresentação durante uma refeição, se tenha um cuidado acrescido na escolha das harmonizações. Do menu apresentado ficou-me a impressão de ter sido pensado não só como secundário em relação aos vinhos -, o que justificará o desequilíbrio (entrada e prato principal de carne?) -, mas em total ignorância das necessidades dos mesmos (uma entrada de alheira e ovo estrelado para os vinhos brancos? Um único prato de carne para tintos com características tão diferentes?)



Em resumo, louve-se a iniciativa de divulgação e os óptimos resultados obtidos pelos vinhos nacionais, saúde-se o continuado crescimento da qualidade da produção portuguesa e espere-se fervorosamente uma mais generalizada atenção por parte de restauradores e profissionais da cozinha  para as necessidades de harmonização e de concepção de refeições considerando tanto a comida quanto as bebidas. Os produtores e os consumidores merecem-no.


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