Where is the female touch?
Where is the female touch?, perguntaram-me no Facebook, a propósito de uma fotografia cheia de cozinheiros, responsáveis por todos os restaurantes em oferta nesta edição do Peixe em Lisboa. Nem de propósito: no rescaldo da apresentação de ontem da eslovena Ana Roš, comentava precisamente que o que mais me impressionou foi o modo como integrou a apresentação do seu trabalho numa mais global apresentação da sua região e do seu país, fazendo-o não como peça central mas como mais um integrante de um eco-sistema natural e social que exige respeito, dedicação e entrega - e que eu considerei como uma postura essencialmente feminina.
Postura que se continuou a manifestar, não na defesa de quotas ou de prevalências de género que a unicidade de género da sua equipa poderia provocar, mas na apologia das condições de trabalho que oferece e que incluem a preocupação com o bem-estar físico e emocional traduzido na insistência nos dias de folga, no pagamento de um salário justo e na descoberta da envolvente geográfica e da sua beleza.
Ainda que não a única, é ainda prevalecente nas cozinhas nacionais a cultura da brigada, de hierarquização da tomada de decisões, da automatização da obediência. Inspirada na organização militar, que considera que o automatismo na resposta e a rapidez no gesto são a única solução para o sucesso (considerando, claro, que as opções das chefias são sempre correctas), alia à eficiência do método uma sempre presente tensão psicológica, agravada pela exigência física do trabalho de braços e das longas horas passadas em pé. Não é assim de admirar que, com estas características, seja tradicionalmente um trabalho que favoreça quem seja fisicamente mais forte, mais agressivo, tradicionalmente mais orientado para organizações do tipo militar. Acresça-se o princípio organizacional de promoção dos afins e a misogenia presente desde sempre nas sociedades ocidentais e compreende-se porque são as cozinhas dos restaurantes ocidentais de tradição ou herança clássica um lugar por excelência para homens.
É a testosterona, estúpido, como diria um ex-presidente americano em várias ocasiões da sua vida.
Perdi-vos, suponho.
Ainda que seja possível, não me parece que a equalização de género nas cozinhas portuguesas, passe simplesmente pela imposição de quotas - afinal quem quererá ser integrado num mundo que se organiza segundo uma visão oposta à sua? - sem antes se equacionar se o modelo de funcionamento das mesmas admite alternativas.
Ora foi precisamente uma janela para o que me pareceu ser um modo diferente de encarar as relações de trabalho, a ligação entre os membros de uma equipa, inclusivamente a responsabilidade social não só com o exterior mas com os colaboradores - e que se reflecte no trabalho diário (por exemplo, durante a semana são só servidos jantares) -, que a apresentação de Ana Roš revelou e que provocou a escrita deste texto.
Mais do que a bela truta Mármore do vale de Soča - Salmo marmoratus - preparada pela equipa e da história do declínio e queda da sua reduzida população no país seguida da bem sucedida recuperação e preservação dos cardumes no rio Soča e de que aqui deixo as fotos para vosso desfrute e minha futura memória.
Postura que se continuou a manifestar, não na defesa de quotas ou de prevalências de género que a unicidade de género da sua equipa poderia provocar, mas na apologia das condições de trabalho que oferece e que incluem a preocupação com o bem-estar físico e emocional traduzido na insistência nos dias de folga, no pagamento de um salário justo e na descoberta da envolvente geográfica e da sua beleza.
Ainda que não a única, é ainda prevalecente nas cozinhas nacionais a cultura da brigada, de hierarquização da tomada de decisões, da automatização da obediência. Inspirada na organização militar, que considera que o automatismo na resposta e a rapidez no gesto são a única solução para o sucesso (considerando, claro, que as opções das chefias são sempre correctas), alia à eficiência do método uma sempre presente tensão psicológica, agravada pela exigência física do trabalho de braços e das longas horas passadas em pé. Não é assim de admirar que, com estas características, seja tradicionalmente um trabalho que favoreça quem seja fisicamente mais forte, mais agressivo, tradicionalmente mais orientado para organizações do tipo militar. Acresça-se o princípio organizacional de promoção dos afins e a misogenia presente desde sempre nas sociedades ocidentais e compreende-se porque são as cozinhas dos restaurantes ocidentais de tradição ou herança clássica um lugar por excelência para homens.
É a testosterona, estúpido, como diria um ex-presidente americano em várias ocasiões da sua vida.
Perdi-vos, suponho.
Ainda que seja possível, não me parece que a equalização de género nas cozinhas portuguesas, passe simplesmente pela imposição de quotas - afinal quem quererá ser integrado num mundo que se organiza segundo uma visão oposta à sua? - sem antes se equacionar se o modelo de funcionamento das mesmas admite alternativas.
Ora foi precisamente uma janela para o que me pareceu ser um modo diferente de encarar as relações de trabalho, a ligação entre os membros de uma equipa, inclusivamente a responsabilidade social não só com o exterior mas com os colaboradores - e que se reflecte no trabalho diário (por exemplo, durante a semana são só servidos jantares) -, que a apresentação de Ana Roš revelou e que provocou a escrita deste texto.
Mais do que a bela truta Mármore do vale de Soča - Salmo marmoratus - preparada pela equipa e da história do declínio e queda da sua reduzida população no país seguida da bem sucedida recuperação e preservação dos cardumes no rio Soča e de que aqui deixo as fotos para vosso desfrute e minha futura memória.
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