O paradoxo de Vimioso



Situado na província mais nordestina de Portugal, o concelho de Vimioso tem todas as condições para ser um destino de eleição para portugueses desejosos de descobrir tanto belas paisagens quanto uma gastronomia rica, arquitectura histórica ou tratamentos termais. Apesar dos espaços deslumbrantes, das vistas desafogadas, do calor da recepção sempre encontrado, é um dos concelhos menos procurados pelo infelizmente ainda pouco desenvolvido turismo interior. Uma terra com tanto para dar e com tão poucos disponíveis para o receber: eis o paradoxo de Vimioso.



No coração da Terra Fria transmontana, atordoada pelas vizinhanças próximas da capital Bragança, cuja vizinhança a ensombra, e da crescente Miranda do Douro. Com um papel fundamental na criação e manutenção da independência de Portugal, atestada pelos altaneiros castelos que ainda hoje vigiam as fragas e os vales dos três rios que atravessam o concelho e cujas águas ao Douro acabarão por entregar. Ecos de batalhas, histórias sem fim, de valentia e dureza, de servidão e fidelidade.


Paisagens de cortar a respiração pela largura dos horizontes, bosques com moinhos de água bem conservados, onde os rumores do vento se cruzam com os murmúrios da água.





Arquitecturas longínquas, militares e populares, sendo a mais marcante destas a dos pombais de Uva, símbolos recuperados da interacção entre o Homem e a Natureza, do respeito daquele e da generosidade desta. Histórias das mulheres e dos homens que voltaram para os estudar e recuperar e que foram ficando, ajudando à sua preservação e divulgação.

Castelo de Algoso

Uva - Pombais

Uva - Pombal

Ponte medieval

Arquitecturas da fé, da telúrica fé dos povos, onde se fez Portugal sob a espada de Santiago, da qualidade apreciável dos artesãos e dos artífices que, longe dos caminhos cosmopolitas e das narrativas artísticas mais avançadas, souberam construir obras que ainda hoje encantam quem visita o concelho.

Algoso -Igreja de São Sebastião

Igreja de São Vicente, Igreja Matriz de Vimioso

Igreja de São Vicente, Igreja Matriz de Vimioso

As termas da Terronha, sobrejacentes ao belo vale do rio Angueira, cujas janelas enquadram o diálogo entre a velha ponte medieval e o contemporâneo viaduto da estrada nacional, projecto recente que permite aproveitar as virtudes curativas das águas sulfurosas conhecidas há séculos pelas populações locais.

Termas da Terronha - piscina interior



E a gastronomia que nos enche a alma e o corpo, nos conforta, nos recebe e connosco partilha a visão única dos espaços, dos tempos, das gentes.

A carne mirandesa que, apesar da denominação recebida do concelho vizinho (Miranda do Douro) é aqui exclusivamente transformada e que tem na "Posta Mirandesa" o patamar mais alto da sua transformação culinária.

Posta Mirandesa

Os enchidos de carne de porco, em especial as alheiras que aqui se criam mais suaves, com um fumo menos intrusivo ainda que bem presente.



A batata regional (batata de Trás-os-Montes), objecto de uma denominação IGP, de sabor adocicado, com uma relação açúcar/amido muito própria e uma textura ideal para reter os gostos dos molhos dos pratos regionais.

As receitas múltiplas, profundas de séculos, desde a já referida "Posta Mirandesa" aos pratos de cabrito (Assado à Vimiosense, Guisado).



O Caldo de Cascas com Botelo, ex-libris de toda a Terra Fria e ainda tão mal conhecido no Sul. Os Garrotes (carne de porco da parte do pescoço e costelas) no Pote à Vimiosense. As Sopas de Escarnador ou Segada (Freguesia de Carção), com bacalhau e pão. As Sopas ou Segada à moda do Vimioso, feitas com o caldo de cozedura das carnes, pão dormido, azeite, colorau e alho. As Sopas da Matança, com pão dormido, o calde de cozedura das carnes, sangue cozido e azeite.


O Pão de Abóbora de Vimioso, com um paladar adocicado (muito próprio da abóbora), o cheiro do pão caseiro de trigo (que lhe é conferido pelo método tradicional de fazer e cozer o pão) e a cor alaranjada da abóbora. O Folar, farinha bem batida com ovos aquecidos em banho-maria e as carnes regionais desfiadas.


A doçaria regional, das Argolas de Carnaval às natalícias Filhós de Ovo e Filhoses de Abóbora, os Pastéis de Amêndoa, as Rosquilhas, as Súplicas.



Um mundo para visitar.

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