(Aproveito a paragem para reparar a injustiça feita a personagens e assuntos e recuperar textos encalhados em duvidas ou hesitaçoes que perderam na altura o seu tempo de publicaçao)
O passado Natal (tão longínquo parece agora, com o tempo acelerado pela quarentena, o isolamento, as saudades!) viu, pela quarta vez consecutiva, a consoada mais abençoada pela presença do bacalhau de cura longa da
Lugrade, Novamente coube tudo naquela primeira garfada de reencontro com o profundo sabor do ganídeo islandês que esta empresa de Coimbra prepara com desvelo e muita competência, ao longo dos dois anos de trabalho e atenção: o conforto dos Natais passados, o amor do Natal presente, a esperança dos Natais futuros.
A cura longa traz a mesma ansiedade, envolve o mesmo risco, aborda a mesma expectativa e, finalmente, recompensa com a mesma enormidade seja quando usada no bacalhau, na carne maturada ou (vá lá, esqueçam rigores puristas e acompanhem a analogia) num vinho de colheita tardia. São processos em desuso num mundo acelerado - conseguirão as próximas gerações, tão treinadas na rapidez dos estímulos, ter tempo para eles, para os preparar, para os aguardar, para os lentamente saborear?
De processos em desuso parecem estes dias falar: conseguiremos mantê-los apesar da (a)normalidade reinante ou que se anuncia? Apesar das fugas às normativas que vou testemunhando da minha janela (a família alargada que continua a reunir-se em almoços dominicais no terraço fronteiro, os casais que passeiam abraçados, de mão dada, de corpos colados no olhar profundo) os mantras instalados nos nossos ouvidos (
mantenhamadistânciasocial, fiquememcasafiquememcasafiquememcasa) instalar-se-ão definitivamente no nosso subconsciente?
Perto do Natal, os irmãos Lucas (Joselito e Vítor) anunciam, em jantares oficiados pelo Diogo Rocha, a nova edição do seu produto
premium. Para esta temporada (2019-20), a novidade foi o Bacalhau Sublime, lombos extra vendidos em embalagens de um quilo e o local o acabado de ser estrelado Mesa de Lemos.
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Joselito Lucas e o Sublime: mesmo sublime |
Com a ajuda do Chef islandês Einar Björn Árnason (em torna viagem, depois da parceria com Diogo Rocha feita no seu
restaurante Einsi Kaldi, situado em
Vestmannaeyjar, arquipélago a Sul da Islândia) e o apoio do primo Carlos Lucas na harmonização vinícola (os seus
Quinta do Ribeiro Santo são digníssimos representantes da região Dão) o jantar foi demonstração, paixão e prazer de e para todos.
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Einar Björn Árnason (esq) e Diogo Rocha |
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Cachaços selecção Diogo Rocha, Grão de bico, Poejo (Diogo Rocha) |
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Lugrade vintage 2019 marinado com manjericão e queijo parmesão, puré de cherovia, molho de tomate e molho de manteiga islandês (Einsi kaldi) |
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Sames de bacalhau, Míscaros e Coentros (Diogo Rocha) |
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Lugrade Vintage 2019 assado à moda da Islândia, Brandada, Tomate, Tâmaras, Cebola roxa e Ervas (Einsi kaldi) |
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Laranja, Tangerina, Amêndoa |
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Chocolate, Pistacchio, Hortelã |
Que memória, passados estes meses? Em primeiro lugar, a maravilhosa quallidade do bacalhau curado. Depois, o modo como, partindo do mesmo ingrediente base, se podem contar histórias tão diversas em consonância com a cultura de cada criador/herdeiro cultural. Ainda, o modo como um vinho bem escolhido realça e se realça, abençoando o tempo de convívio e alegria que deve ser sempre uma refeição (amar é preciso, com distância governamental ou não). Finalmente - e em primeiro lugar - a elegância da família Lucas, cavalheiresca no modo como recebe e consciente de que ser empresário está muito para além de produzir lucro (com, alíás, se pode constatar nestes meses de chumbo).
Possamos - eles, vós, nós - assim continuar. Saúde!
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