Quarentena #8 - Rir para não chorar



"Deixe-me ir, preciso andar 
Vou por aí a procurar 
Rir pra não chorar" 

Cartola, Preciso me Encontrar Meu Amor, 

Meu Amor,

Depois de assistir às surreais prestações com que alguns dos responsáveis nacionais e mundiais contribuem para o nosso diário viver, só posso concluir que vivemos uma época de Humor em Tempos de Cólera. Hum.. não, sejamos precisos, Humor em Tempos de Covid. Só a nossa capacidade de rir (dos outros mas também de nós) nos salvará do negrume, do desespero de achar que a bazófia, a pesporrência, o ar doutoral, o aspecto solene que uns e outras adaptam não passam de estratégias para esconder a suave incompetência ou a violenta burrice que não os/as isentou de assumir cargos de responsabilidade.

Bolsonaro a encomendar manifestações numerosas ou Trump a desvalorizar a "gripezinha" são já clássicos na insustentável leveza da estupidez (e ainda estou á espera de ver aquele senhor que ainda não caiu de maduro atribuir à CIA a existência do vírus especificamente para derrotar a gloriosa revolução bolivariana). Agradecendo à internet a sua perpetuação no limbo do tempo, podemos reproduzir nos nossos écrans o irreversível de António Costa que passou das reservas em relação ao estado de emergência ao aprofundar das medidas de restrição da liberdade dos seus cidadãos em apenas 2 semanas, a negação veemente, por parte da directora geral da saúde,  da periculosidade do COVID ou o seu maravilhoso bailado de mãos na demonstração completa de como não se deve lidar com luvas ou garrafas de agua públicas numa pandemia.

Rir para não chorar, recomendava Cartola na sua imensa sabedoria de sensato habitante dos lados escuros da vida.

Lisboa, em escura pandemia, Abril 2020

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