O pecado da Luisinha


"Eu não quero que a minha cozinha italiana não tenha uma mão portuguesa." 

À laia de introdução, não poderia escolher melhor frase para sintetizar a garra de uma das mais interessantes cozinheiras portuguesas que por Lisboa oficia: Luísa Fernandes, nome de guerra "chef Luisinha" (pode um nome exprimir muito - a doçura do diminuitivo a enluvar a liderança? Pode).

Por Lisboa no presente - porque dela já foi Nova Iorque (15 anos como chef executiva numa instituição como o Robert, restaurante do Museum of Art and Design, é significativo) - onde agora nos presenteia com a sua  - síntese? integrada? redefinida? - italiana cozinha mergulhada  

Tenho dúvidas sobre se estamos perante uma cozinha italiana com influências portuguesas ou, na tradição lisboeto-portuguesa de integração de ingredientes e técnicas de mundiais origens na cozinha local (assim a evoluindo, assim a cosmopolitizando), assistirmos a um outro modo culinário português, para isso utilizando alguns dos "lugares-comuns" gastronómicos italianos.

Para poucos importará esta hesitação. A todos ser-lhe-á com certeza mais útil a exaltação dos sentidos, o piscar do olho às memórias tão presentes, o jogo de gato e rato entre referência nacionais e italianas.

Veja-se o que provei em jantar recente, de apresentação, onde a vontade de descoberta foi mútua, a curiosidade bastante e a companhia tão prazenteira quanto a comida se viria a revelar.

Um pão de alho para treino e aquecimento, 

Pão de alho

seguido do primeiro acontecimento, para guardar: o gnocco fritto, receita típica da Emilia-Romagna mas que nos (a)parecem tão próximos dos quase já saudosos (são cada vez mais rarefeitos os públicos locais onde os provar!) nacionais pasteis de massa tenra. Leves, tão bons de molhar no tépido tomate (que se aprova, em vez de versões mais frescas), a Burrata latte 

Burrata, Molho de tomate e Gnocco fritto



Pizza Parma

Pratos Principais: 

Ressalto mais uma vez a "estranheza" que se entranha: "italiano" ou "português"? Bom. Saboroso. Guloso. Muito bem feito.

Risotto de tomate, Filetes de sardinha fresca

Esparguette nero e choco salteado em azeite alho limão e coentros


Ravioli de cozido á Portuguesa num caldo de carne cenoura baby Juliana de lombardo e hortelã


Risotto de laranja com pato confitado, pele em torresmo e marmelada de cebola


Ragu de Borrego de leite com Papardelle e hortelã 



Sobremesa: 

Peccatum 
(biscoito, creme de queijo mascarpone, gelado de baunilha, chocolate com avelã, caramelo, café expresso)


À saída, a par dos sabores que, prazerosos se encaminhavam para um poiso mais perene, da boca para a memória, as palavras da oficiante: "Nós não conseguimos anular a nossa cabeça". Ainda bem, chefe, ainda bem...

Vale a deslocação, vale o retorno.

Restaurante Pizzaria Devina Peccatum R. José Gomes Monteiro 136, 2675-397 Odivelas

AS FOTOGRAFIAS SÃO DO MÁRIO CERDEIRA, A QUEM AGRADEÇO A PARABENIZO!

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