Rubro: Tapas na Rodrigues


É um desconchavo passar por Lisboa à noite se o fizermos longe da grande farra que é a zona do Bairro Alto/Chiado: ruas silenciosas, luzes apagadas na maioria dos apartamentos afastados do seu desígnio  habitacional, uma decrepitude de ânimo que nos afecta e faz parelha com a decrepitude real ou arquitectónica da envolvente.

Os restaurantes - quando não fechados sobre si mesmos, quase secretos no seu anonimato - são ilhas que se buscam na esperança de sentir a cidade viva, de nos sentirmos acima da soturnidade de Cesário, desta melancolia que nos rala por dentro e nos entardece.

Numa destas noites descia a Rodrigues Sampaio, dividido entre o alternar arquitectónico de arte nova e modernismo e entrou-se-me pela curiosidade dentro este RUBRO. Assim. Janelas montras de um interior convidativo, despojado mas pensado, no edifício de Norte Júnior que traseira o (também seu) mais magnífico exemplar de arte nova da capital (quanto tempo resistirá aos apelos hoteleiros?), ali estava, tão convidativo que entrei.

Ambiente descontraído, carta não muito extensa mas com propostas tentadoras, carta de vinhos compacta, com preços aceitáveis dentro do exagero generalizado.

Menu de degustação:
O camarão, a morcela, o portobello e os fígados. Codorniz em escassez de postura...


Puntillitas, exageradamente fritas, uma overdose de gordura, atenuada pelo sumo de limão. Sempre uma tentação...


Mojama, a versão andaluza da algarvia e muito nossa (e muito desconhecida) muxama que a Mercearia Criativa oferece. Uma delícia para quem a descobre, um prazer renovado para os iniciados (já comi melhor? Não conhecendo a proveniência desta, posso pelo menos dizer que já houve provas que me souberam melhor).



Uns revueltos com espargos verdes muito bem feitos.




O pequeno óbice dos bancos sem costas não tolda a agradabilidade do conjunto.

Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma vai reconfortada.

E a noite até pareceu mais bonita no passeio posterior, com as jóias realçadas e as ruínas recuadas para a obscuridade...



Comentários

O Rubro é dos meus locais preferidos em Lisboa para tapear. Ontem mesmo estive no da Rodrigues Sampaio. A Muxama deles é diferente da da Mercearia Criativa. É espanhola. As tortilhas e omeletes são excepcionais, o entrecôte também e as tapas, em geral, muito imaginativas. O vinho a copo também é uma vantagem inequívoca. O preço muito equilibrado. Parabéns pelas fotos. Maravilhosas.
Pedro Cruz Gomes disse…
Sim, até hoje a muxama da Mercearia foi a que melhor me soube, apesar da agradabilidade das mojamas. Obrigado pelo elogio. Faz-se o que se pode... :-)

No último ano..