Jantar, palavras, sentidos, sentimentos


Trabalhamos que nem uns doidos, mas divertimo-nos. E espalhamos amor.

Sim. Dizem, por aí, que "Espalhar amor" é tão corny que deixa um travo de Torny Carreira na interpretação de quem o lê.

Mas - wtf - I really don't care. Ensina-me a vida, às vezes facilmente, outras vezes com a dureza que uma cabeça dura merece, que os momentos são para ser apreciados, as sensações para serem desfrutadas, as dádivas para ser atentamente recebidas e - com alma, com nervo, com ser - devidamente de-vo-ra-das. E com o amor espalhado me entendo.

O Joe Best não precisa nem de apresentações, nem de publicidade. Tem, dentro de si, para além do talento inato para cozinhar, inventar, recriar, uma intuição para o belo, para o bom, e para o bastante, que faz da esmagadora maioria das suas preparações um festim para os olhos, um regalo para o coração, um desmando para os sentidos.


A Ana não é a grande mulher que está por trás do Joe - é, simples e complexamente, uma grande mulher.


Sabem amar-se como conheço poucos e o resultado espelha-se sempre, no seu trabalho, nos gestos discretos e singulares. São felizes.

Em dias especiais, tudo engrena de tal maneira que, quando deles sou testemunha, gostaria de ter uma memória totalmente perene para deles não me perder. Não tenho. Por isso, sobre eles escrevo, procurando a eternidade deste meio, procurando que, a parte que cada um dos que me lêem retém, forme um mosaico inspirador que a todos leve esta realidade de que, apesar de tudo, a felicidade - mesmo ilusória, mesmo breve, mesmo fugidia - é possível, intensa, profunda.

Jantar, palavras, sentidos e sentimentos. Se ao menos a minha compreensão dos outros fosse assim tão fácil de aprender.

Salmão Tigre num Tirinho 
(ceviche de salmão e shot de Red Snapper) A laranja caçou a alheira (alheira de caça Bísaro em capa de gelatina de laranja)

Humpty Dumpty 
(ovo a 60º, pipocas de leitão, Ogonori e sal fumado)
Vinco da maré 
(algas, camarao da Costa e mexilhões - au natural)


Yellow Fino 
( Preguinho de ventresca e mostarda velha)
Lagarada de skrei  
(sous vide: bacalhau fresco, couves, puré de nabos com amendoa, azeite e alho fermentado)

Feijocas de Mar e os Açores 
(feijocas, polvo, caldo amariscado, coentros e linguiça da Ribeira Grande)
Vitelinha Exótica 
(vitela do Gerês 24 horas, seu exsudado com manga e Sambal oelek)

Laranjas e Amendoins  
(Tangerina Santini "Nitro-Screwdriver", pé-de-moleque e mousse Malto-seca de chocolate branco com Pina Báta)

Comentários

F.F. disse…
Belo escrito sobre tachos, amigos, amor e sabores. Nao tendo tido o teu privilegio de palato , tive o de te ler......ate parece que sentia o cheiro....e tenho ainda a sorte de te conhecer e ao Joe, e do conhdcimento se parte para construir a amizade
laura lopes disse…
Obrigado pela partilha, Pedro. Gostei muito do que senti nos meandros dessas tuas simples e puras palavras. Fiquei com vontade de os conhecer...
Pedro Cruz Gomes disse…
:-) Ainda bem. Haveremos de com eles combinar um jantar.

No último ano..